Enquanto isso no blog ao lado...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Coisa de cinema

No meio do passeio ela parou e resolveu olhar para os lados. Tinha ouvido algum barulho, mas não sabia de onde vinha. Procurou, sem sucesso, e voltou a andar novamente.

Alguns metros depois, ouviu novamente um barulho. Ao olhar para o lado, viu que uma das moitas próximas se mexia. Pensou em ir conferir o que era. Pensou de novo e retomou o caminho.

Na moita dois lobos maus conversam:

- Falei que isso era coisa de cinema...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

OOOOPS!

E olha só o nó que a reforma está dando na cabeça de todo mundo. O heroi aí do texto abaixo está escrito errado...

Na verdade, só caem os acentos dos ditongos abertos (ei e oi) em palavras paroxítonas. Como sabemos, herói não é paroxítona e sim oxítona, portanto o acento continua ali e o herói pode voltar a sorrir e a salvar o mundo como fazia antes. Mas os seus feitos passam a ser heroicos a partir de agora, sem acento para abrilhantar.

O pingüim pode continuar chorando. No caso dele, já era mesmo!

domingo, 5 de outubro de 2008

Mudança Ortográfica

Apesar de gostar do texto, a reforma acabou me pregando uma peça e eu escrevi bobagem. Veja aqui.

Ele estava ali quietinho no canto, mais sem graça do que sempre esteve em toda a sua gloriosa vida.
Era conhecido por sua destreza e por seus grandes feitos, mas sentia que algo muito importante tinha sido tirado dele. Assim sem aviso, sem grande alarde, mas doía tanto.

Quem via a cena sentia quase o mesmo aperto no peito. Um misto de saudade e de compaixão.

E ele continuava sentado olhando para o nada e lembrando-se que agora era só um heroi. Heroi assim diferente mesmo, sem o acento que o acompanhara a vida inteira e que deixava o seu nome tão mais pomposo.

De repente balançou a cabeça e sorriu discretamente. Em sua cabeça pensava que seu acento fazia falta mas que, ao mesmo tempo, tudo seria muito pior se fosse um pinguim.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Assiduidade

- Mulher, você precisa escrever mais no seu blog. Dar um certo valor a periodicidade, sabe?

- Saber eu até sei, mas não consigo!!!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Barack Osama

Na televisão a notícia da vez era a Convenção Democrata e a indicação oficial de Barack Obama como candidato do partido à presidência dos Estados Unidos. No meio da matéria meio filho senta ao meu lado no sofá e diz:

- Mãe, sabia que eu não gosto desse homem?

E eu sem entender nada:

- Não gosta, filho?! Mas por quê?

Ele todo sério, fazendo pose de quem já sabe das coisas, emendou:

- Porque ele está envolvido em muitas guerras. Eu vi na TV.

Achando graça, mas tentando não demonstrar, expliquei que Barack Obama e Osama Bin Laden eram duas pessoas diferentes. Imagina o nó que isso deve ter dado na cabeça do bichinho.

Experiências Insones Vazias

Ultimamente ando sem sono, muito sem sono... Fico acordada enquanto todo o resto da casa dorme e, sem muita coisa para fazer, passo horas inventando atividades. Leio, navego, vejo TV e, para variar um pouco, ontem testei uma nova atividade: descer e observar a madrugada.

Sentada, na frente do prédio, conheci uma árvore que nunca tinha visto antes e percebi que posso ver quando os carros chegam no calibrador do pneu no posto mais próximo. No mais, o silêncio menos silencioso que eu já ouvi.

Alguém passava por perto carregando algo em um carrinho de mão que rangia quase como as portas do restaurante que se fechava atrás de mim. Alguns carros iam e vinham e um motor de moto roncou diferente.

Pessoas conversavam ao longe e, de vez em quando, uma música parecia surgir do nada toda vez que a porta do pub vizinho se abria para que alguém saísse.

No meio de tudo isso, uma mulher muito nervosa gritava ao telefone algo sobre provas, processos e telefonemas anteriores. Algo como um cancelamento não efetuado ou alguma conta não quitada.

Antes do próximo som, vi ao longe um homem chegar com sua barulhenta bicicleta. Ele passou na minha frente, fez a volta próximo e, sumiu atrás de outro prédio. Enquanto ele sumia, resolvi voltar para casa.

Subindo as escadas ainda pensei em qual seria a próxima música do pub ou em qual seria o fim da conversa com o atendente de telemarketing, mas já estava perto demais para voltar. Entrei e fui me deitar.

Diante da (in)utilidade da experiência cheguei a uma conclusão: preciso voltar a dormir!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Virundum próprio

Depois de muito tempo sem tomar ritalina isso sempre acontece... Os posts vão rareando, rareando e, de vez em quando, eu lembro que tenho um blog que não é o de cinema, onde posso postar tudo que me vem à cabeça.

Hoje alguma coisa me fez lembrar de um virundum - quando a gente escuta uma música, acha que sabe a letra e canta uma coisa completamente diferente sem a menor noção do que está realmente sendo dito - que marcou a minha história.
Sei lá porque, mas de noite a minha filha estava rindo no quarto e eu perguntei o que era, ela disse que estava em uma comunidade do Orkut onde as pessoas contavam as letras de música completamente diferentes do que eram no original.
A idéia já estava na cabeça e aquilo mais parecia um sinal de "escreva!"

Vamos à história:
Estávamos eu e minha filha voltando da escola dela quando começa a tocar no rádio a mais nova música dO Rappa. Todo mundo sabe que se existe uma música boa para a gente entender errado o que o cara diz, ela tem grandes chances de ser do Falcão, o vocalista da banda O Rappa.
Enchi a boca para cantar o refrão, que era a única parte que eu conhecia da música:

- ♫Arte Yemambáaaa...

- O que, mãe?
- Arte Yemambá, filha...

Falei com tanta segurança que ela ficou por alguns segundos com o olhar meio perdido, possivelmente pensando que cantava errado, mas querendo saber o porquê daquilo.

- ...É uma arte indígena muito antiga.

Na explicação, devo ter vacilado em algum momento, pois ela explodiu numa sonora gargalhada.

- Que é? Vai dizer que você entende o que ele está cantando?
- Atirei-me ao mar?
- Ah...

E fiquei eu com cara de tacho, olhando para frente e querendo chegar logo em algum lugar para esquecer daquilo. Mas a história rodou a família, os amigos e virou até toque de celular para as minhas chamadas...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Tudo tão dentro da gente

Sabe aquele começo, quando tudo que um acha legal o outro adora? Quando os dois têm o mesmo conhecimento/gosto musical, literário e cinematográfico? Quando tudo que um fala está certo aos ouvidos do outro?

Pois é, tudo isso se deve à neutrofina, hormônio liberado pelo nosso organismo e que faz tudo ficar lindo, emocionante, perfeito e desesperado. Mas tem um pequeno defeito: seu prazo de validade é de apenas dois anos.

É geralmente depois deste período que tudo volta ao normal. A pessoa amada tem defeitos que começam a te incomodar, o tempo juntos não é mais tão perfeito e as ligações começam a durar o tempo normal.

Mas nem tudo está perdido, sempre há chance de uma grande paixão virar amor de verdade. Basta torcer para que a ocitocina (uma enzima ligada ao aleitamento materno) tome o seu lugar e mantenha, ao menos, o sentimento pela pessoa que tempos atrás te deixou tão perto do céu.

E é assim... Hormônios e enzimas equilibrados são capazes de manter ou não a felicidade de um casal.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Conversa surreal

– Na verdade, eu acho que sou meio assim...

– Hum...

– Assim, meio primata demais!

– ...

– Caramba! Será que eu sou o elo perdido?

– Claro que não!

– É... Eu não sou exatamente o elo perdido, mas eu sou descendente dele.

– Claro que não!

– Ué, mas você também é...

Ah é!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Que carta de tarô é você?

Passeando por aí, em lugares que sempre gosto de passear, achei um post bem legalzinho. Foi no blog da Luma, o LumaKimura. Lá encontrei um desses testes que a gente faz na internet para dizer qual carta do tarô tem mais a ver com você.

Como ando sem muita inspiração ultimamente e sem tempo de blogar, achei uma boa idéia e fiz o meu também...

You are The Moon

Hope, expectation, Bright promises.

The Moon is a card of magic and mystery - when prominent you know that nothing is as it seems, particularly when it concerns relationships. All logic is thrown out the window.

The Moon is all about visions and illusions, madness, genius and poetry. This is a card that has to do with sleep, and so with both dreams and nightmares. It is a scary card in that it warns that there might be hidden enemies, tricks and falsehoods. But it should also be remembered that this is a card of great creativity, of powerful magic, primal feelings and intuition. You may be going through a time of emotional and mental trial; if you have any past mental problems, you must be vigilant in taking your medication but avoid drugs or alcohol, as abuse of either will cause them irreparable damage. This time however, can also result in great creativity, psychic powers, visions and insight. You can and should trust your intuition.

What Tarot Card are You?
Take the Test to Find Out.

terça-feira, 22 de julho de 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Alguém me explica?

De um lado do Brasil, um pobre e desconhecido senhor de 80 anos está preso por colocar suas vaquinhas para pastar na beira da estrada e, assim, poder provocar um acidente. De outro, um rico e influente senhor está solto após executar a namorada jornalista com dois tiros porque ela não o queria mais.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Indigna Nação

Dada as últimas notícias de prisão e soltura do banqueiro Daniel Dantas, pelo desmerecidamente presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes não posso ficar calada.

Mas a indignação é tanta que eu não consigo nem achar as palavras e, por isso, vou utilizar as tão bem escritas de Chico Buarque na música 'O Que Será (À Flor da Pele)'.
E ela foi escrita para o período da ditadura, mas o "nem nunca terá" além de verdadeiro é mais do que apropriado.

O que será que será
Que andam suspirando
Pelas alcovas?
Que andam sussurrando
Em versos e trovas?
Que andam combinando
No breu das tocas?
Que anda nas cabeças?
Anda nas bocas?
Que andam acendendo
Velas nos becos?
Estão falando alto
Pelos botecos
E gritam nos mercados
Que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza
Nem nunca terá!
O que não tem concerto
Nem nunca terá!
O que não tem tamanho...

O que será? Que Será?
Que vive nas idéias
Desses amantes
Que cantam os poetas
Mais delirantes
Que juram os profetas
Embriagados
Está na romaria
Dos mutilados
Está nas fantasias
Dos infelizes
Está no dia a dia
Das meretrizes
No plano dos bandidos
Dos desvalidos
Em todos os sentidos
Será, que será?
O que não tem decência
Nem nunca terá!
O que não tem censura
Nem nunca terá!
O que não faz sentido...

O que será? Que será?
Que todos os avisos
Não vão evitar
Porque todos os risos
Vão desafiar
Porque todos os sinos
Irão repicar
Porque todos os hinos
Irão consagrar
E todos os meninos
Vão desembestar
E todos os destinos
Irão se encontrar
E mesmo padre eterno
Que nunca foi lá
Olhando aquele inferno
Vai abençoar!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!
O que não tem juízo...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Vista Cansada

Embora ainda não precise deles, outro dia estava reparando que as pessoas estão sempre procurando os seus óculos para ler coisas, conectar cabos e procurar espinhos nos pés dos mais novos.

Tentei buscar na memória pessoas fazendo isso no meu passado e só me lembrei dos meus avós, mas com bem menos freqüência.

Aí comecei a me questionar: Não se usava muito óculos para vista cansada antigamente ou eu estou ficando velha mesmo?

terça-feira, 8 de julho de 2008

Foi

Estava ali parado esperando o tempo passar. Não tinha nada para fazer mesmo e até os seus pensamentos pareciam estar com preguiça de aparecer. E ficou assim, naquela posição durante tanto tempo, que nunca mais se mexeu novamente.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Voltando...

Já que não deu desta, o jeito é esperar a próxima. Mas uma coisa é certa: valeu demais estar lá! Lindo!

terça-feira, 1 de julho de 2008

Ausência Justificada

Vou dar um pulinho lá no Maraca... Já já eu volto!


Saudações Tricolores!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ainda não acabou...



"Seria loucura pensar numa vitória certa ou fácil. A vitória terá de ser umedecida com um suor forte, épico."
Nelson Rodrigues


quinta-feira, 19 de junho de 2008

Trapalhada

Sabe aqueles dias em que a única coisa que a gente quer fazer é ajudar e o máximo que conseguimos fazer é atrapalhar de um jeito absurdamente incompetente?
Foi o que aconteceu comigo hoje.
Uma amiga do trabalho estava com o computador dando os primeiros sinais de morte próxima. Eu e minha boca inqueita acabamos tomando partido da história.
"Por que você não salva tudo na rede?"
"É mesmo, né?", ela respondeu.
Depois da transferência feita, a descoberta de que a pasta poderia ser acessada por outras pessoas.
"Ah, não quero deixar os meus textos que ainda nem foram publicados aqui não."
"Então é melhor trazer uma pen drive amanhã e gravar tudo", eu disse.
"É, pode apagar tudo aí"
"Mas está salvo em outro lugar?"
"Está, ué!"
Sem checar nada, apertei o maldito botão delete e, claro, os arquivos não estavam em lugar nenhum.
Até achei uma pasta com o mesmo nome na lixeira e dei um restaurar, mas nada aconteceu.
Depois de muita agonia e desespero, ela teve que sair para cobrir uma pauta e eu fiquei com aquela droga de computador na minha frente, que sempre respondia que os arquivos que eu queria não podiam ser encontrados e que os atalhos não levavam a lugar nenhum.
Ligações apavoradas e lá vem o povo da informática para tentar me salvar.
Procura daqui, procura de lá.
"Tem aquele jeito de recuperar..." um disse para o outro.
Entraram em um programa e foram atrás dos backups. Encontraram, mas um de antes das gravações e outro de depois. Ou seja, não adiantou nada.
Um deles ainda falou que conseguiria fazer alguma outra coisa e assumiu o posto. Mexe daqui, mexe de lá e muitos dos textos foram recuperados, mas mesmo assim não foram todos.
Aquela situação...
Coração apertadinho, milhares de pedidos de desculpa, vontade de chorar.
E a aquele desejo soberano de ter sumido junto com os arquivos, mas com os que nunca mais voltariam.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Ganhar tempo?

Alguém pode me explicar porque toda vez que escolhemos um caixa de supermercado pela quantidade de pessoas ou compras, justamente no escolhido o cartão dá problema, a fita acaba ou o preço de alguma mercadoria está errado?

sábado, 7 de junho de 2008

Farol

Vem... Estou te chamando e vou te levar para outro lugar...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Passou

O passado incomoda porque chega de repente.
Traz com ele aquele gosto amargo que transforma tudo
E torna belas coisas em cotidiano.

Os sons emudecem,
As luzes se apagam
E o riso constante só chega de vez em quando.

O que foi grande um dia, vai diminuindo, diminuindo
E chega quase perto de ser nada...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Já dizia Juliane...

Se meu avião estivesse caindo, eu ia procurar pela saída de emergência e pular. Já que é para morrer, prefiro morrer me jogando...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Rumo às semi-finais


Taí uma coisa que sabe como fazer o meu coração bater mais forte!
Saudações tricolores a todos! E parabéns pela vitória, meu time!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Meme

Dia desses, zapeando pela net, descobri um blog que, além de muito bonitinho, tem um conteúdo ótimo. Acabei virando fã e freqüentadora. É o LumaKimura. Foi dele que eu recebi o primeiro meme do Ritalinas.
Muito obrigada, Luma! Um grande beijo para você...

  • Um nome: Cecília
  • Uma palavra: saúde
  • Um sentimento: amor
  • Um verbo: ver
  • Um gesto: abraço
  • Um 1º lugar: os filhos
  • Uma cor: verde
  • Um objeto: iPod
  • Um dia: sábado
  • Um mês: fevereiro
  • Um ano: 1974
  • Uma letra: B
  • Uma estação: inverno
  • Uma flor: íris azul
  • Uma fruta: maçã
  • Uma matéria: qualquer língua estrangeira
  • Um passatempo: filmes
  • Um esporte: futebol
  • Um herói: Batman
  • Um exemplo: dindo João
  • Um filme: Casablanca
  • Uma música: God Only Knows, The Beach Boys
  • Um programa de TV: C.S.I.
  • Um time: Fluminense
  • Uma mania: puxar cabelo
  • Uma profissão: crítica de cinema
  • Um sonho: conhecer Paris
  • Uma coisa importante: perdoar
  • Uma sorte: poder viajar
  • Um medo: a doença voltar
  • Um amor: o atual e eterno
  • Um perfume: Dolce e Gabbana
  • Adoro: estar com os amigos
  • Odeio: comer sozinha
  • Amigos: os que estão ao meu lado sempre
  • Um lugar: minha casa
  • Um cheiro: chocolate
  • Um horário: fim da noite
  • Um sorvete: pistache
  • Um ciúme: de coisa nova que eu ainda não explorei
  • Uma cidade: São Paulo
  • Uma dor: a notícia da metástase, há nove meses
  • Uma saudade: vô Ruy
  • Um hobby: escrever sobre filmes
  • Uma peça de roupa: calça jeans
  • É indispensável: acreditar
  • Um website: Last.FM
  • Um defeito: implicância
  • Uma qualidade: saber ouvir
  • Uma comida: vatapá de frango da vó Ziela
  • Um doce: nozes au fondant
  • Uma lanchonete: Subway
  • Um restaurante: Mori
  • Uma frase: Já pode abrir os olhos...
Esse meme foi bem legal de fazer. Indico para o Dourado, a Bruna, a , a Pathy e a Nane.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Dourado

Tem um leitor assíduo que às vezes me deixa envergonhada, às vezes me deixa convencida, às vezes até me emociona! Mas sei que gosto de cada visita que ele faz a este lugarzinho meu e que, agora, resolvi mostrar para o mundo...

Foi dele que recebi o meu primeiro selo!



Muitíssimo obrigada pelo presente, pela presença e pela força, Dourado!

Indico o selo para o blog Esse é bom!, da Dona Bruna Bites...

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Vácuo

Agonia, medo, sono, ansiedade, saudade, solidão
No vazio das horas, são estas as minhas companhias
Com elas converso sobre o nada
Crio uma lógica inexistente e incompleta
Penso na insignificância de tudo
Sinto as palavras querendo explodir ao primeiro piscar de olhos
Até a noite se cala
Para que as coisas possam fazer menos sentido
E os sentidos percebam o abstrato

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Seres invisíveis

Estou aqui ajoelhada no chão limpando uma privada que eu não tenho permissão de usar. Trabalho há mais de dez anos em uma universidade federal e, durante todo esse tempo, nunca me senti melhor do que qualquer sujeira que eu limpo diariamente.

Em um lugar público, onde teoricamente estariam ricos e pobres, mas só aqueles que têm dinheiro conseguem freqüentar, conheço o rosto de várias pessoas. Alguns estudam aqui, outros estudaram e hoje são professores, mas todos eles passam por mim como se eu fosse parte da mobília, uma coisa inanimada que sempre esteve ali, mas não é importante.

Aliás, a minha existência só é notada em casos extremos. Ontem não vim trabalhar, estava no enterro de minha mãe. Só percebi que sentiram a minha falta quando, no corredor, uma aluna falou que o banheiro estava um nojo, mas nem isto foi falado para mim, foi para outra pessoa, como se eu não pudesse escutar.

Conto cada minuto que estou aqui dentro como um exercício de sobrevivência. Espero as horas de pausa para estar com outros que sentem a mesma coisa que eu, mas também não podem fazer nada para mudar a sua invisibilidade.

Antes, pensava que se fosse um cachorro vagando pelo campus, receberia mais afeto do que recebo hoje, mas agora tenho, lá no fundo do meu peito, uma esperança: minha filha está estudando muito e sonha em entrar para esta universidade. Tenho certeza que, a partir deste dia, pelo menos uma pessoa vai me olhar nos olhos, saber o meu nome e me cumprimentar.

Porque "No País das Ritalinas"

Vária pessoas já me perguntaram porque o meu blog se chama No País das Ritalinas. Como percebi que esta é uma dúvida comum, resolvi explicar aqui a escolha do nome.

Eu tenho um transtorno muito conhecido atualmente, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Por causa dele sou uma pessoa muito impulsiva e desatenta e não sou muito boa em tarefas de arrumação e, muito menos, em finalizar as coisas que começo.

Como hoje em dia para tudo existe remédio, criaram um medicamento para melhorar a vida das pessoas que têm este mesmo problema, a Ritalina.

Um dos efeitos colaterais da droga, em mim, é que a criatividade, que já sobra aqui dentro, aumenta e eu penso em escrever o tempo todo, sem parar. As histórias vão se formando em minha mente sem eu nem perceber e a vontade de falar sobre tudo que vejo também aumenta muito. Por isso resolvi virar blogueira, para colocar para fora essa quantidade enorme de coisas e não ocupar tanto espaço em minhas prateleiras. Aqui, procuro falar das coisas que invento, mas ainda tenho um pouco de vergonha. No meu outro blog, Cenas de Cinema, falo dos filmes que assisto e, como estou falando da criação dos outros, não fico tão tímida.

Então é isso, conviver com o transtorno não é fácil. Mas agora tudo está muito mais calmo e minha vida parece mais organizada. Na verdade, é como se hoje eu estivesse entrado em um outro mundo, por isso, peguei emprestado o título do clássico de Lewis Carroll. E aqui estou eu: Cecilia no País das Ritalinas.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Cadê o sentimento?

Neste mundo louco, ninguém mais parece saber o que é viver em sociedade. Cada um se preocupa consigo e o resto que se vire. Não existe mais aquela conversa no portão, aquela amizade entre vizinhos. Falta até amor de pai, amor de mãe, amor de filho. De repente estamos em um mundo que não estamos preparados para enfrentar e, talvez por isso, preferimos fechar os olhos aos acontecimentos, aos outros seres humanos e recheamos nossas vidas com coisas pequenas e antes insignificantes.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Walter

Walter era um menino lindo. Alto, cabelos negros e com um olhar tão profundo como o de Capitu. Vivia calado e, onde quer que estivesse, estava com a mãe ao seu lado.

Na pequena cidade onde moravam, todos acreditavam que era mudo, menos a jovem Alice, colega de escola desde a primeira infância, que jurava a quem quisesse ouvir que já ouvira a voz de Walter.

Provar que o rapaz falava virou um dos objetivos de Alice. No começo Walter não percebia, mas ela estava em todos os lugares que ele estava. Enquanto para ela, tudo não passava de uma pesquisa, para ele as coisas iam tomando outras proporções. Só pensava nela, não via a hora de sair de casa e encontrá-la. Arrumava-se todo, perfumava-se e não queria mais ficar em casa. Há muito, a paixão crescente não era discreta e Alice resolveu que se aproveitaria dela para provar que ele falava sim.

A mãe de Walter também notou a mudança de comportamento do filho e resolveu que já não mais sairia com ele. Em um desses dias, Alice viu a senhora entrando em um mercado local sem o filho e não perdeu tempo, pegou sua bicicleta e foi para a casa deles.

A alegria do menino ao chegar para abrir a porta foi algo sem limites. Ele gesticulava freneticamente, arrumava o sofá, parecia beber alguma coisa sem ter nada nas mãos. Eram tantos gestos, que Alice sentiu-se meio tonta. Ela segurou-o pelos ombros, olhou no fundo de seus olhos, pediu calma e começou a falar:

- Eu notei que você gosta de mim. É verdade?

Walter, eufórico, respondeu que sim com a cabeça.

- E você quer namorar comigo? - Ela disse.

Novamente, apenas um aceno de cabeça.

- Eu te dou um beijo, mas só se você falar que me ama.

Após ouvir estas palavras, a expressão de Walter era de choque. Queria beijá-la mais do que tudo na vida. Ao mesmo tempo lembrava de sua mãe falando que nunca, jamais, sob hipótese alguma, deveria falar. Seus olhos encheram-se de lágrimas, mas Alice continuava insensível:

- Vamos, fala! É só para mim. Prometo que não conto para ninguém.

O menino ainda fez que não com a cabeça e tentou desviar o olhar, mas ela segurou em seu rosto e disse com um olhar de desapontamento:

- Se você não falar, eu vou embora, e nunca mais, nunca mais, eu chego perto de você.

Walter não conseguia nem descrever o que estava sentindo. Parecia não ter mais estômago e suas pernas estavam muito bambas. Sabia que não podia falar, mas não queria ficar sem Alice. Abraçou-a e, antes que pudesse pensar melhor, olhou-a nos olhos, abriu a boca e mugiu.

O susto da menina foi algo sobrenatural. Ela fugiu do abraço como um sabonete escorrega nas mãos ensaboadas. Olhava para Walter sem acreditar no que ouvira e aproximava a cabeça do ombro tentando ver se assim entendia, ou se desentupia o ouvido.

Ele nem notou que ela estava assim. Estava desesperado e, tentando explicar o que acontecera, mugiu novamente.

Mais um susto e Alice começou a caminhar lentamente para trás. Walter não queria que ela fosse embora, queria explicar, queria ficar com ela, queria o beijo que prometera. Caiu de joelho no chão e agarrou-a pelas pernas chorando e mugindo sem parar.

A menina queria sair dali, mas não conseguia mover-se. Sentia muito medo, mas, ao mesmo tempo, tinha pena dele.

De repente, a porta se abriu e a mãe de Walter entrou assustada. Ouviu o filho mugindo loucamente ao chegar perto da porta. Há muitos anos ele não fazia isso. Mas o sentimento de desespero não era nada perto do que ela sentira ao se deparar com a cena. A menina chata que vivia atrás de seu filho em pé e Walter agarrado em suas pernas chorando e mugindo em desespero.

Ela ainda tentou perguntar o que Alice estava fazendo ali, mas a única coisa que se podia ouvir na sala eram os mugidos. Estavam todos desesperados e foi Alice quem resolveu a situação. Passando por cima de todo o terror que estava sentindo, acariciou a cabeça de Walter e pegou em seus ombros. Os mugidos foram espaçando, até sumirem completamente.

Walter foi largando as pernas de Alice até deitar-se no chão. A menina ainda se ajoelhou ao seu lado e, com lágrimas nos olhos, pediu desculpa por fazê-lo passar por tudo aquilo. Deu um beijo em seu rosto e ajudou-o a se levantar e sentar no sofá.

A mãe ainda estava parada no mesmo lugar e assistia a tudo sem falar nada e nem se mover, tentava pensar no que faria, no que diria para a menina depois que tudo aquilo acabasse, ela iria querer saber.

Mas ela já sabia de tudo, com a calmaria e o silêncio, as coisas começaram a fazer sentido em sua cabeça. Beijou novamente o rosto de Walter e disse em seu ouvido:

- Eu vou embora agora, mas volto logo.

O menino, mais uma vez, apenas acenou com a cabeça, olhou-a nos olhos e tentou sorrir. Antes que a mãe conseguisse pensar em algo para falar, Alice virou as costas, abriu a porta e foi embora.

Pedalando rápido, com o vento batendo em seu rosto, lembrava de tudo que havia acontecido. Lembrou-se também de uma conversa que teve com o pai e na qual nunca acreditara. Uma vez, em uma reunião de família, ele comentara que, há muitos anos, buscando a cura de doenças graves, começaram a produzir embriões mistos de seres humanos e bovinos. Com o tempo, ficou proibida a morte destes embriões e alguns cresceram e se desenvolveram. Sabia-se que o novo ser era, na verdade, 99% humano e 1% bovino, mas ninguém sabia o que, na verdade, era diferente. O que era o 1%. Alice descobrira hoje.

Futebol é assim!

A gente gasta tanta energia torcendo, mas se alguma coisa sai errada, se alguém não acerta o pênalti, se o juiz é um doido, ou se o nosso time está nervoso demais, não tem mais jeito mesmo.

Aí é sentar quietinho no canto, beijar a camisa, esperar o próximo jogo, cumprimentar todos os alvinegros que vir pela frente e ignorar as chatices dos flamenguistas, que parecem habitar o mundo só para isso: atazanar!

domingo, 20 de abril de 2008

MEME: Os melhores e piores da estante

A Nane, do blog Utopia de Emily, mandou um meme para o meu outro blog, o Cenas de Cinema. Adorei a idéia, mas como o assunto tem mais a ver com o Ritalinas, resolvi respondê-lo por aqui. Nem sei se posso fazer isso, mas lá vai:

Para começar, tenho que indicar os cinco melhores autores da minha estante:
  • Machado de Assis: em primeiríssimo lugar e isolado. O melhor de todos os tempos e em qualquer língua. Tem uma narrativa fantástica e sabe como abordar qualquer assunto usando sutileza, mas sem deixar de ser irônico. Um mestre!
  • William Shakespeare: se alguém quer ler algo sobre as várias faces de um ser humano, eis a melhor opção. Apesar do inglês arcaico, não há como não gostar!
  • Edgar Alan Poe: para quem gosta de contos de mistério e terror. Ele influenciou um monte de gente que faz muito sucesso até hoje e soube como escrever histórias que parecem nunca ficar antigas.
  • Ruy Castro: o meu favorito para biografias. Quando começo a ler um livro dele, tenho muita dificuldade de parar.
  • Carlos Drummond de Andrade: adoro suas poesias, que falam de coisas cotidianas e corriqueiras de uma maneira encantadora.
Para finalizar, tenho que indicar um autor que jamais deveria ter publicado um livro e esta tarefa é muito mais fácil do que a anterior:
  • Paulo Coelho: apesar de ser adorado por todos, não vejo sentido em tanto sucesso. Não gosto de nada nos livros dele.

Então é isso! Agora tenho que indicar o meme a outros amigos blogueiros. Os escolhidos foram:

sábado, 12 de abril de 2008

Shakespeare e o amor

"Senhorita, deixastes-me privado do uso da fala. O sangue, tão somente de minhas veias, é que vos responde."
(O Mercador de Veneza)

"Tudo me gira em torno. A expectativa me faz sentir vertigens.
O deleite imaginário é de tal modo doce
Que me encanta os sentidos."
(Trólio e Cressida)

"Porque todos os amantes se comportam como eu:
Inconstantes e volúveis em todos os sentimentos,
Menos na imagem fixa
de criatura que amam."
(Noite de Reis)

"O amor, de fato, é só à primeira vista"
(Como Gostais)

"O amor não vê com os olhos, mas com a mente;
E por isso é alado, e cego, e tão potente"
(Sonho de uma Noite de Verão)

"Parece abril, com seus incertos dias,
o amor primaveril, sempre mudável,
que ora o sol patenteia, resplendente,
ora em nuvem se esconde, impenetrável"
(Os Dois Cavaleiros de Verona)

"Assim por teu amor ou bem por tua imagem,
Ausente, sempre estás presente junto a mim.
Segue-te meu pensar por longe que viajes
E com ele estou eu, como ele está comigo."
(Soneto 47)

"Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor"
(Hamlet)

"O amor é fumaça formada pelos vapores dos suspiros.
Purificado, é um fogo chispeante nos olhos dos amantes.
Contrariado, um mar alimentado pelas lágrimas dos amantes.
Que mais ainda? Loucura prudentíssima,
fel que nos abafa, doçura que nos salva"
(Romeu e Julieta)


E é assim: quando falta a criatividade, vem a citação...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Quarto Escuro

Em um quarto escuro encontro pessoas perdidas

“Você?! O que quer aqui? Por que agora?”

Gente importante, gente insignificante

Aquela pessoa especial

Aquele cara chato

Cada um com a sua bagagem

Com a sua história

Reconheço os olhos tristes daqueles que magoei

E o rosto sereno dos que precisaram de mim

O pai, os filhos

O irmão, os vizinhos

E, aqui desse lado, você

Mas você também está ali

E acolá, e ali atrás, e mais adiante

Onipresente e constante

Com tantos olhares

Com tantos sorrisos

domingo, 6 de abril de 2008

Covardia

Covardia é esperar acabar sabendo que você pode fazer ou dizer algo, que você pode se levantar e andar. Se cuidar, se curar, se permitir...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Paciência

Pensei em pagar uma fortuna por um retiro espiritual, em uma outra cidade, tentando buscar a minha paciência, que resolvera sumir dentro de mim.

Mas para que gastar esse dinheiro se preciso encontrá-la agora, para tentar comprar a passagem?

Odeio promoções de passagens aéreas!

Círculo vicioso

Aí, ela olhou no fundo dos olhos dele e disse:

- Não quero mais!

Ele ainda fez sinal de que falaria alguma coisa, mas ela se levantou, ajeitou a bolsa no ombro, virou de costas e foi embora.

Na verdade, ela achou que não conseguiria. Não era a primeira vez que tentava. E ele sempre fazia com que seu pensamento mudasse. Prometia mudar umas vezes, comprava flores em outras, mas sempre que ela prestava atenção novamente, já queria dizer isso para ele de novo.

O dia inteiro pensou em como faria para resistira àquele olhar. Resolveu então que iria no trabalho dele, pois lá ele não saberia o que fazer, não correria atrás dela, não choraria. Treinou umas 25 vezes na frente do espelho e foi.

Chegou lá sentindo que seu coração sairia pela boca, até os seus joelhos pareciam tremer. Entrou na sala e lá estava ele, lindo. Será que ela devia mesmo terminar? Antes que ele se levantasse ela sentou em sua frente.

Ele demorara a falar, como se estivesse prevendo algo. Mas, com uma fisionomia assustada perguntou se tudo estava bem.

A voz dele a fez abaixar os olhos por pouco tempo. Ao fitá-lo novamente sentiu mais uma vez aquela pontinha de dúvida, mas um filme rápido se formou em sua mente. Ele gritando, falando coisas que ela já não agüentava ouvir, a falta de assunto, o pouco caso, todos os desgostos e mágoas jogados para baixo do tapete.

Foi o suficiente. Ela endireitou-se na cadeira, olhou no fundo dos olhos dele e disse:

- Não quero mais!

Ele ainda fez sinal de que falaria alguma coisa, mas ela se levantou, ajeitou a bolsa no ombro, virou de costas e foi embora.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Engarrafamento

Calor insuportável. Parece que a direção, o painel e até o carro vão escorrer ali, bem na minha mão. O sol faz a gente ter a sensação de que o asfalto está derretendo e evaporando assim, a olhos vistos.

A fila de carros na minha frente é inacreditável, assim como a que está atrás de mim e a que está ao meu lado. O som do carro está ligado num volume que normalmente me deixaria irritadíssimo, mas com o ar condicionado ligado no máximo e com essa sinfonia desafinada de buzinas descoordenadas não tinha mesmo muito jeito.

Lá de longe vejo o menino vendedor de balinhas. Ele as pendura apressadamente nos retrovisores dos carros. Ninguém nem olha, tirando aquela senhora gorda que já comprou tudo que passou por ela.

Ao meu lado, um menino de no máximo 20 anos canta alegremente com as janelas do carro meio abaixadas e com fones de ouvido. Como ele está agüentando o calor sem um ar condicionado? Como é que pode ele estar assim cantando? Como é que alguém pode ficar feliz num engarrafamento?

Me sinto irritado com a alegria desta criatura e acho que olho demais pra ele. Ele está me olhando de volta. Fico envergonhado por ter sido pego em flagrante, sentindo um misto de raiva e inveja dentro de mim. O rapaz, por sua vez, sorri pra mim. Aquilo é como um tapa na cara, mas eu tento me controlar e olho para baixo.

Merda! A minha calça está com uma mancha branca. Que diabos foi isso? Só pode ser pasta de dente. Pego o primeiro papel que alcanço e esfrego com força na calça pra ver se pelo menos disfarço. Secretamente, penso que estou esfregando a o sorriso na cara do cara ao lado, tentando apagá-lo.

O menino das balas chega até o meu carro, mal chega e já vai. Agora só vou vê-lo quando ele voltar recolhendo. Acho que esse não é aquele de sempre. Será que aconteceu alguma coisa com o outro? Há dois anos vejo esses meninos aqui e sequer sei o nome deles.

Por que as rádios têm tanto falatório? Se eu quisesse ouvir alguém falando, deixaria na CBN. Aliás, vou fazer isso. Pelo menos assim ninguém grita no meu ouvido que eu posso comprar isso ou aquilo em infinitas prestações.

Lá vem o menino recolhendo as balinhas. Olho pra ele e faço que não com a cabeça. Descubro que é o mesmo, mas com o cabelo cortado. Isso, de algum jeito me alivia.

O cara ao lado parece ter trocado de música. Agora só cantarola sem se movimentar tanto. Não era possível mesmo que aquela empolgação durasse pra sempre. Ainda mais aqui. Ainda mais agora.

Penso no quanto eu sou ridículo por me sentir melhor ao ver que meu vizinho de engarrafamento não está mais feliz. Além de estar estressado quero que todos se estressem também. Isso me deixa bastante envergonhado.

Olho para o rapaz, que olha novamente pra mim. Sorrio pra ele e ele me olha com a testa franzida, como se eu o tivesse paquerando ou algo do tipo. A vontade que eu tenho é de gritar que não é nada disso. Que só quero que ele fique feliz de novo. É lógico que não faço isso, mas ele vira a cara e parece que não pretende sorrir e nem me olhar nunca mais.

Graças a Deus o carro começa a andar, mas logo depois para de novo. Pelo menos um alívio: o meu vizinho de engarrafamento é outro. E está bem nervoso!

terça-feira, 18 de março de 2008

Macaco olha o seu rabo

Não perca tanto tempo e nem gaste tanta saliva colocando para fora o que você acha dos outros. Você também é imperfeito, também gosta do que não presta, também se deixa levar pela preguiça e inventa coisas que não existem.
Ninguém aqui é superior e os defeitos de cada um são próprios e intransferíveis, só tente mudá-los se você já não tiver nenhum. Como ninguém é assim livre de defeitos, cale-se.
Cale-se e ao observar o outro, pense em você, em tudo o que fez até então, o quanto sofreu por ser como é e o que em você pode irritar outra pessoa.
Então recolha-se... à sua insignificância, à sua imperfeição...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Velho Chico

Velho Chico estava cansado

Queria dormir

Mas não conseguia

Pensava em Celeste

Pensava em Ana

Pensava em Maria

Pensava em tanta gente...

Lembrou do chefe

Do filho, do neto

E até do velho Rex

Mas estava cansado

E não queria mais lembrar

Queria descansar

Dormir e, quem sabe,

Não ter que acordar.

quinta-feira, 6 de março de 2008

De um sentimento

Eu chego e não quero saber quem é você

De onde veio ou para onde vai

O que procura ou o que encontrou

Isso não me interessa

Você respira, anda, pensa

Seu coração bate

Você sente

Então posso fazer o que quiser dentro

E eu entro, sem pedir licença

Sem nem fechar a porta

Porque quero saber que posso ir embora

Agora, amanhã, a qualquer hora

Mas primeiro bagunço tudo

Sei como fazer você perder o ritmo

Sei como prender seus pensamentos em um único objeto

Quando entro tiro tudo do lugar

Coloco o que quero onde quero

E na hora que desejo

Faço rir, flutuar, delirar de prazer

Te deixo louca de tanta felicidade

Mas trago comigo a dor

E ninguém chora como quando sou eu quem machuca

Fico até saber que aqui nãomais nada a se fazer

Até perceber que você sentiu tudo que precisava

Que eu te deixei esgotada de mim

E que tudo que eu podia fazer não pode mais ser feito

É nessa hora que parto

Devagarinho, discretamente

Não faço barulho, não bato a porta

Me permito, no máximo, virar um pouco

Para contemplar a bagunça que um dia eu fiz

E então posso partir

Saio em busca de um outro coração bem organizado

Porque sou sentimento, sou forte, sou dono

Sou pura e simplesmente o amor

E não posso deixar de passar pela vida de ninguém

quarta-feira, 5 de março de 2008

Hora da Olívia

Seis horas!
Hora de ir pra janela
e esperar Olívia passar.

Mas nada dela chegar.
Deve ter se atrasado!
Pode estar doente
ou ter um novo namorado!

Será que foi demitida?
Ou hoje é dia de ensaio?

Que nada! Lá vem ela!
Toda se rebolando
e com sorriso largo.

Atrasou de propósito,
pra me deixar assim:
com cara de bobo perdido
só pra poder rir de mim!

Jogo

Sentar. Olhar. Gritar. Xingar. Amar. Admirar. Odiar. Sentir. Sorrir. Chorar. Se desesperar. Torcer. Gritar: GOOOOOOOOOOOOOOL! Pular. Pular. Gritar. Gargalhar. Sorrir. Abraçar. Beijar.

Sentar. Olhar. Gritar. Xingar. Amar. Admirar. Odiar. Sentir. Sorrir. Chorar. Se desesperar: GOOOOOOOOOOL! Abaixar a cabeça. Chorar. Chorar. Acreditar.

Levantar. Pular. Cantar. Gritar. Torcer. Torcer. Torcer...

terça-feira, 4 de março de 2008

Seus Olhos

Obrigada por me deixar embarcar nessa viagem
Que me mostra o tudo e o nada
As coisas boas e lindas que existem no mundo

Que me leva para longe de casa
Mas que, ainda assim, me faz sentir segura
E feliz, muito feliz...

Feliz por percorrer esses caminhos todos os dias,
Todas as horas, minutos, segundos....
Feliz por saber que eles estarão sempre ali
Pra me levar a lugares tão lindos

Pois tudo que é lindo está dentro deles
Tudo aquilo que eu preciso para me acalmar,
Para me animar e me sentir bem

Meu refúgio
Onde eu gosto de entrar e tenho medo de sair
Onde tudo é só meu e só existe pra mim

Quando eles se afastam, me sinto perdida
É como se o caminho não existisse mais.
E me acalmo com a esperança da sua chegada
Que ela seja em breve, sempre

E que você me deixe, pelo resto da vida,
Fazer esta viagem e descobrir todos esses outros mundos
Que existem dentro de seus olhos doces e infinitos....

É Fato...

É fato. Eu sinto a sua falta!
Sinto falta do pouco que já tivemos
E do muito que já perdemos.

Falta dos caminhos musicais que traçamos,
Do Angie transformado em Gatinha Manhosa,
Das terríveis versões brasileiras,
Dos milhares de revistinhas.

Falta das idas e vindas de nossa história.
Dos risos, das lágrimas,
Do Flamengo empatando e do gol de barriga.
Falta da sua voz amiga
E da sua ânsia por fazer as coisas certas.

Do meu fusca lindinho,
Do seu fusca sem chão.
Falta do seu cabelo grande na minha barriga,
Do seu cabelo curto nas minhas mãos.
O beijo sagrado no Rubble.
E as fotos na Esplanada?
A Dani dominando o espaço.

Sinto falta da Cinha e do Zinho,
Do Luiz Caldas cover tão trash,
Das suas composições
E do som das borboletas voando no parque.

Até do ciúme eu sinto saudade,
Até da falta de consideração,
Da lambança na minha sala.
Da primeira, da segunda e da última vez.

Falta dessa música que você levou de mim
E que te traz de volta
How I wish you where here.

Não como homem ou namorado,
Mas como a pessoa maravilhosa que você é,
Como o grande companheiro que foi,
Como amigo.

Falta das conversas, do carinho,
Da atenção e do seu violão.
De olhar nos seus olhos quando sonho contigo
E tenho a certeza de que você não está bem
Ou está bem demais, mas não partilha comigo.

Sinto falta da nossa turma,
Da idade que eu tinha quando você estava aqui,
Das nossas viagens e festas
Have you ever seen the rain?

E agora eu não queria o seu beijo,
Queria o seu abraço.
Não queria o seu amor,
Queria só o seu carinho,
A sua amizade.
A volta de algo que tivemos além do namoro,
Mas que causa ciúme nos seus e nos meus.

Queria você aqui pra ver que eu sou feliz,
Do mesmo jeito que quero te ver feliz.
Para cantar enquanto você toca,
Para discutir o jogo enquanto você quebra os óculos,
Para me mostrar que eu, às vezes, sou radical demais
E só pra ser meu amigo, mais nada...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Sozinha

Sozinha na escuridão da noite, eu consigo pensar.
Consigo ver que muitas coisas não são tão necessárias
Que certos sacrifícios são dispensáveis
E que ninguém é tão importante pra mim
Como eu mesma sou
Sozinha com as estrelas, consigo enxergar
Uma completa estranha realidade
Noto que estou perdida em sentimentos
Transbordada em palavras
Todas elas ditas ao tempo
À vida
À minha própria solidão...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Burrice

Era tão burro, tão burro, que quando a menina tentou falar, não conseguiu entender nada
Era tão burra, tão burra, que quando o menino quis ouvir, não conseguiu falar nada
Eram tão burros, tão burros, que não souberam resolver sua paixão desesperada.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Hoje, Amanhã e Depois

Quero você aqui comigo
Hoje, amanhã e depois

Iluminando a minha vida
Com o brilho dos seus olhos

Traçando meu caminho
Com a fluidez dos seus passos

Adoçando meu dia
Com suas muitas palavras tão doces

Aqui, ao seu lado, é a minha casa
O lugar onde eu sempre quis estar
E de onde tenho medo de sair

Longe de você já desconheço a vida
Sinto meu coração
Mas não entendo o que ele diz

Porque tudo que ele repete é o seu nome
Tudo que meus olhos buscam são os seus

Pois neles está o meu mundo
O meu céu estrelado

E é por isso, meu amor,
Que você me faz feliz

E é por isso que eu quero você comigo
Hoje, amanhã e depois...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Ciúme de Mãe

Por que logo ela?
Ele tinha tantas que gostavam dele
Foi pegar logo uma que não sabe cuidar bem
Por que não a Ritinha?
“Ela era tão bonitinha e meiga e atenciosa comigo”
Ou a Cláudia?
Tão mais madura e segura do que queria
Essa é uma aventureira
Só pensa em se divertir, em estar na rua
Ele até começou a beber depois dela
Se não estiver experimentando drogas por aí
Ela parece não ter pais
Dorme aqui em casa como se fosse algo normal
E ainda tem coragem de dar bom dia quando acorda
Só o Pedrinho não vê o que precisa
Fica todo encantado, como se estar com ela fosse a melhor coisa do mundo
Melhor até do que estar deitado aqui, no colo da mãe dele.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Tanto

Desejei-te tanto
Amei-te tanto
Sofri tanto por ti
Que de tanto tanto
Um tanto já te esqueci

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Menina da Lua

Menina da lua, você me faz bem!
De um jeito diferente, estar ao seu lado me deixa em paz.

Adoro nossas conversas
E o pouco tempo que passamos juntas,
Mas deixa eu sentar agora
Porque “celulite dói”

A sua voz divagando sobre o tempo
E a sua cabeça avoada
Que funciona quase como a minha
E essa nossa vida de peixe

Peixe que tem que aprender a viver
Num mundo que não é nosso
Onde largamos o nosso corpo
Mas não conseguimos respirar

E a gente se vê lá na lua
É lá que moram os nossos amores
Onde guardamos as nossas expectativas
Aqui sobram as portas de carro abertas
E as carteiras vazias, mas tão bagunçadas

Lá estão as visões, as idéias, as viagens
Aqui, nossas máquinas fotográficas e nossas canetas
Que mostram o resultado de toda essa nossa mistura
“E então?”

Então quero dizer que ter você por perto é bom
E que sou feliz por ter te encontrado
Porque você, menina da lua,
Você me faz bem!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Ela e a Bola

Corre, menina, que a bola já vem
E está te procurando

Pega, menina, que agora ela é toda sua
E só quer saber de você

O campo fica pequeno quando é a sua vez
Não dá para parar de olhar

Você pula, cai, levanta, vai pra esquerda, vai pra direita
E a bola vai junto
Não toma nem conhecimento do resto

Chuta, menina, que tá na hora
E lá vai a sua bola fazendo curva

Passa pela goleira, que não acredita
E balança mais uma vez a rede

Comemora, menina, que agora já foi
E o gol é todo seu!

Adeus a Tom Jobim

O dia em que todos amanheceram calados

E, com tanto silêncio, o sol demorou a levantar-se e se esqueceu de deitar.

Os pássaros viveram o dia mais triste de suas vidas,

Mudos, não arriscaram um pio

Até o trânsito, sempre tão barulhento, ficou triste. Calou-se.

Nenhum acorde de violão, nenhuma música.

saudade. Como se o mundo tivesse perdido um pedaço,

Como se nunca mais fosse possível cantar.

Até o choro era silencioso

O dia em que o mundo perdeu o Tom.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Canto de um povo

Minha terra tem lixão
Onde voa o urubu
As pessoas que aqui vivem
Não comem como tu

As crianças são famintas
E passam necessidade
Aquelas que sobrevivem
Clamam por piedade

À noite todos têm frio
E vontade de chorar
Minha terra tem gente
Que não tem onde morar

Minha terra tem pessoas
Incomuns noutro lugar
São pessoas que, mesmo sem nome
Não param de lutar
Minha terra tem um povo
Do qual deve se orgulhar

Não permita Deus que eu morra
Sem ver tudo melhorar
Sem ver meus compatriotas
Com motivos pra cantar
Sem ver todos os brasileiros
Com um teto, com um lar.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

...

- Ei, você! Eu te conheço!

- ...

- Não tá lembrando de mim não?

- ...

- A gente vinha todo dia aqui. Eu ficava horas com você. Te via rindo, cantando, chorando, dançando, correndo...

- Hum....

- Não é possível que não se lembre! Você gostava de mim! Dizia isso! Dava pra perceber!

- ...

- Meu nome? Lembra do meu nome?

- Desculpe, mas não...

- Como? Você falou o meu nome tantas vezes. Mais do que falou, você brincava inventando músicas com o meu nome.

- Mas eu...

- Eu pensei em você todos esses anos. Lembro sempre de você. De nós dois, da nossa música...

- ...

- Nem da nossa música você lembra?

- Desculpe, mas não lembro de ter cantado o nome de ninguém e, muito menos, de ter uma música.

- Meu Deus! Foi tão ruim assim? Porque pra bloquear assim... Carlos, quase fomos morar juntos!

- Como é?

- Quase fomos embora de Brasília pra morar juntos em Florianópolis.

- Não, não! De que você me chamou?

- Carlos! Você não é o Carlos?

- Não! Não canto, não tenho música e não sou o Carlos!

- ...

- Mas sempre tive vontade de ir morar em Florianópolis...

Aniversário de Casamento

Espero a chegada dele com ansiedade. Não quero sentar pra não amassar o meu vestido, não quero ficar em pé pra não machucar os meus pés com o salto alto. Quando penso em quantas horas eu fiquei me preparando pra esse encontro, percebo o quanto ele é importante pra mim e o quanto eu me sinto bem fazendo isso por ele.

O cabelo está mais curto, sofri na depilação por horas, gastei uma grana com um conjuntinho novo de calcinha e sutiã e retirei a maquiagem toda por duas vezes por não achar que a cor da sombra estivesse boa. O que será que ele vai achar de tudo isso?

Acho que exagerei um pouco no perfume, só consigo sentir o cheiro dele. O Márcio odeia quando eu passo perfume demais. Será que eu deveria tomar uma ducha pra amenizar a situação? Mas só faltam dois minutos para a hora que nós combinamos. De repente se eu me lavasse rapidinho. Só mesmo uma água no corpo.

Tiro o vestido na sala mesmo e o coloco com todo carinho em cima do sofá, corro pro banheiro só de lingerie e nem me preocupo em regular a temperatura da água. Claro que está gelada e eu tento não morrer congelada enquanto salvo a escova do cabelo. Mas dá tudo certo.

Saio, me enxugo rapidamente, coloco novamente a calcinha e o sutiã e volto pra sala, onde o vestido me aguarda bem quietinho. Depois de pronta novamente percebo que o cheiro do perfume parece estar agora pior do que antes, meio estranho, como se tivesse sido lavado. Corro pro banheiro e coloco só um pouco nos pulsos, o suficiente pro corpo inteiro.

Resolvo não calçar o sapato. Assim é mais fácil ficar em pé. Mas se o Márcio chega e me pega descalça vai passar uma hora falando que nunca o espero pronta. Resolvo, então, deixar o par bem perto de onde estou pra que nenhuma briga aconteça.

Olho pro relógio e dois minutos já passaram da hora marcada. Se fosse eu, escutaria um monte de bobagens. Mas pra que ficar comparando. É o nosso aniversário de casamento. Depois de 12 anos já não vale mais a pena ficar brigando por qualquer coisa.

Sento para esperá-lo e penso em telefonar, mas controlo a minha vontade, mesmo com o telefone olhando pra mim daquele jeito. De repente seria bom beber uma taça de vinho, já que ele não chega. Mas o meu hálito não ficaria muito agradável depois de um vinho.

Sem ter o que fazer e pra não enlouquecer enquanto o espero, pego meus sapatos e vou para o quarto de tv. Odeio esse sofá, parece que ele vai engolir a gente. Sento e ligo a televisão. Está passando o jornal, mas eu não sei porque prestar atenção em tanta desgraça. Fico ali olhando e pensando nas muitas coisas que eu tenho que fazer com as crianças no dia seguinte. Será que elas estão bem?

Pego o telefone e ligo pra casa da minha mãe. Ela atende como se tivesse acabado de correr uma maratona. “Tudo bem por aí, mãe?”, “ele tem que colocar o aparelho”, “amanhã eu te conto tudo”, “beijos e boa noite”.

Desligo o telefone e penso novamente em ligar pro Márcio. Mas não, não vale a pena. Olho pro relógio e, apesar de parecer uma eternidade, parece que o tempo não andou. Fiz tudo isso em dois minutos? Será possível?

Ele sempre faz isso comigo, eu me arrumo toda e nada dele aparecer. Deve ter encontrado algum amigo e resolveu esticar pra algum boteco do caminho. Provavelmente nem se deu conta de que hoje é o nosso aniversário de casamento. Já não quero mais fazer nada com ele.

Faço questão agora de deixar que o sofá me amarrote toda, já não estou mais sentada, deitei pra ver se pego no sono.

O trinco da porta faz um barulho. É ele. Idiota! Está cinco minutos atrasado. Vou fingir que estou dormindo e assim ele vai ver o quanto eu estou magoada com a sua falta de atenção.

Há exatos 12 anos eu agüento esse tipo de descaso, mas agora não vai mais ser assim. Esse foi o nosso último aniversário. Amanhã eu vou pra casa da minha mãe.

Os passos se aproximam da sala de tv. Tento controlar a respiração pra não demonstrar a minha revolta. Não quero falar com ele, não quero olhar para a cara dele. Enquanto sinto tanto ódio, ele passa a mão levemente em meu braço e sussurra em meu ouvido: “amorzinho?”.

Amorzinho?! Se fosse assim chegaria na hora, né?

Ele repete e eu abro os olhos fingindo que estava no melhor dos sonhos. Não falo nada. Na minha frente está o homem por quem eu me apaixonei e com quem eu resolvi que passaria o resto da minha vida toda. Em suas mãos um buquê de tulipas vermelhas, as minhas favoritas.

“Perdi a hora porque não achava a cor que você gostava, parecia que só tinham tulipas laranjas e amarelas nessa cidade. Ainda bem que encontrei essas. Era pra ser uma dúzia, mas lá só tinha essas oito.”

Tudo Errado

O marido e a esposa não tinham uma vida boa. Ele era a criatura mais chata da face da terra e ela, há muito, não conseguia mais olhar para a cara dele. Tinham se casado levados pelos primeiros momentos da paixão. Depois de muito sexo, resolveram que não podiam mais viver um sem o outro.

Balela! O sexo rareou e eles começaram a descobrir suas reais personalidades. Ela era implicante, ele, além de muito chato, não tinha conteúdo. Foram levando uma vida assim, mais pela vergonha do fracasso do que pela vontade de estar juntos.

Como já não conversavam, os programas favoritos eram restaurantes e cinema. Locais onde não se fala muito. Gordos, muito gordos mesmo, conheciam todos os restaurantes legais da cidade e os seus pratos mais interessantes. Já não comiam civilizadamente, a velocidade das garfadas fazia com que as palavras quase não existissem e, para eles, assim era perfeito.

O filme da vez era Melinda e Melinda, de Woody Allen. A esposa já assistira todos os filmes dele. O marido achava-o intelectual demais. Estavam sentados, numa sala lotada e em silêncio absoluto, quando apareceu na tela Daniel Sunjata, um dos namoradinhos da protagonista.

O marido, sem nenhum aviso, falou em alto em bom som:

- Puta que pariu! Isso não é um ator, é um modelo! E modelo de cueca!

A esposa, com a boca aberta, olhava para ele sem saber o que falar. Ele virou para frente e não falou mais com ela. O silêncio entre eles durou mais de uma semana. Ninguém queria falar sobre o assunto.

Durante muitos dias, a esposa só conseguia pensar em como alguém, ao ver um ator totalmente vestido (sim, ele estava de calça, camisa e pulôver) conseguiu imaginar um modelo de cueca? Aliás, quem sabe o que é um modelo de cueca?

Pouco tempo depois se separaram e, para alegria geral dos amigos da esposa, eles nunca mais se encontraram. E para decepção dos amigos do marido, hoje ele faz shows travestido na boite gay mais famosa da cidade.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Movimento

Sinto lá no fundo que o tempo está passando, mas nada se move. É como se eu estivesse dentro de um filme pausado. Até ouço os gritos das pessoas lá fora, mas não consigo olhar para elas. E fico aqui, estática, esperando o tempo passar...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Ai que calor!

Em mais uma tarde quente, Marília resolveu juntar suas coisas e sair pela rua observando as pessoas. Será que só ela ficava irritada com aquele calor? Será que as marcas molhadas nas blusas só envergonhavam a ela? E aquele bigodinho ridículo de suor, ninguém notava?

Sem pensar no quanto seria ruim andar embaixo daquele sol e totalmente dedicada à pesquisa, lá foi a pequena com um caderninho e uma caneta na mão. Primeiro tentou ficar parada no banco da rua, mas estava quente demais e a impressão que ela tinha era a de que estava sentada na chapa de panqueca. Foi para uma árvore próxima a banca, mas uma outra pessoa já estava ali usufruindo da sombra. Como sua mãe não gostava que ficasse perto de gente desconhecida, acabou voltando para casa e sentando na porta mesmo.

Apesar do pouco tempo que passara ali, Marília achava que já tinha perdido tempo demais de sua vida esperando alguém passar na rua. Estava quase se levantando quando viu o carteiro se aproximando. Ela procurou uma folha em branco e destampou a caneta.

"Carteiro"

O pobre suava mais do que garrafa gelada em cima da mesa. As pernas quase não levantavam do chão e a camisa estava completamente molhada. O rosto dele estava vermelho e a mão estava colocada em cima da barriga, daquele jeito que fazemos quando sentimos "dor de veado".
A menina olhava curiosa. Não pensou duas vezes e começou a escrever:

"O carteiro já deve estar acostumado com o calor. Ainda não tirou a camisa e ainda passou por aqui sorrindo pra mim e passou devagar, para que eu visse bem o sorriso. Será que homens sentem menos calor do que as mulheres?"

Pouco tempo depois passa uma babá empurrando um carrinho com um bebê dentro. Ela está com o cabelo preso e está com pressa. O bebê não pára de pronunciar sílabas soltas e balança as pernas e os braços como se essa fosse a coisa mais gostosa do mundo. Antes de passar pela frente da menina, a babá pára e oferece uma pequena mamadeira de água ao neném. Ele pega a mamadeira, bebe um golinho e começa a sacudí-la loucamente. Cada gotinha de água que cai em seu rosto o faz sentir a maior alegria do mundo.

A menina não pensa duas vezes:

"Babá e bebê"

"Mais uma descoberta: bebês não sentem calor! Deve ser porque dentro da barriga das nossas mães é quente pra burro! Babás devem sentir calor, mas deve ser pouco. Ela deu uma mamadeira de água para ele (ele nem quis!), se fosse eu teria tomado um gole antes. Ou seja, sou calorenta demais para ser babá."

Mesmo depois que a babá some de seu campo de visão, Marília só consegue pensar em como seria bom uma água bem gelada. Ela resolve entrar em casa e, na cozinha, dá de cara com sua mãe.

- Onde você tava, filha?
- Tô fazendo uma pesquisa, mãe.
- É mesmo? Onde?
- Aqui na rua mesmo...
- Nossa, filha! Mas nesse calor?

Os olhos da menina brilharam e ela correu para escrever em seu caderninho.

"Mãe"

"Não posso ser carteiro, babá e nem bebê, mas acabei de descobrir que eu posso ser uma mãe tão legal quanto a minha!"
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