Enquanto isso no blog ao lado...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Menina da Lua

Menina da lua, você me faz bem!
De um jeito diferente, estar ao seu lado me deixa em paz.

Adoro nossas conversas
E o pouco tempo que passamos juntas,
Mas deixa eu sentar agora
Porque “celulite dói”

A sua voz divagando sobre o tempo
E a sua cabeça avoada
Que funciona quase como a minha
E essa nossa vida de peixe

Peixe que tem que aprender a viver
Num mundo que não é nosso
Onde largamos o nosso corpo
Mas não conseguimos respirar

E a gente se vê lá na lua
É lá que moram os nossos amores
Onde guardamos as nossas expectativas
Aqui sobram as portas de carro abertas
E as carteiras vazias, mas tão bagunçadas

Lá estão as visões, as idéias, as viagens
Aqui, nossas máquinas fotográficas e nossas canetas
Que mostram o resultado de toda essa nossa mistura
“E então?”

Então quero dizer que ter você por perto é bom
E que sou feliz por ter te encontrado
Porque você, menina da lua,
Você me faz bem!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Ela e a Bola

Corre, menina, que a bola já vem
E está te procurando

Pega, menina, que agora ela é toda sua
E só quer saber de você

O campo fica pequeno quando é a sua vez
Não dá para parar de olhar

Você pula, cai, levanta, vai pra esquerda, vai pra direita
E a bola vai junto
Não toma nem conhecimento do resto

Chuta, menina, que tá na hora
E lá vai a sua bola fazendo curva

Passa pela goleira, que não acredita
E balança mais uma vez a rede

Comemora, menina, que agora já foi
E o gol é todo seu!

Adeus a Tom Jobim

O dia em que todos amanheceram calados

E, com tanto silêncio, o sol demorou a levantar-se e se esqueceu de deitar.

Os pássaros viveram o dia mais triste de suas vidas,

Mudos, não arriscaram um pio

Até o trânsito, sempre tão barulhento, ficou triste. Calou-se.

Nenhum acorde de violão, nenhuma música.

saudade. Como se o mundo tivesse perdido um pedaço,

Como se nunca mais fosse possível cantar.

Até o choro era silencioso

O dia em que o mundo perdeu o Tom.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Canto de um povo

Minha terra tem lixão
Onde voa o urubu
As pessoas que aqui vivem
Não comem como tu

As crianças são famintas
E passam necessidade
Aquelas que sobrevivem
Clamam por piedade

À noite todos têm frio
E vontade de chorar
Minha terra tem gente
Que não tem onde morar

Minha terra tem pessoas
Incomuns noutro lugar
São pessoas que, mesmo sem nome
Não param de lutar
Minha terra tem um povo
Do qual deve se orgulhar

Não permita Deus que eu morra
Sem ver tudo melhorar
Sem ver meus compatriotas
Com motivos pra cantar
Sem ver todos os brasileiros
Com um teto, com um lar.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

...

- Ei, você! Eu te conheço!

- ...

- Não tá lembrando de mim não?

- ...

- A gente vinha todo dia aqui. Eu ficava horas com você. Te via rindo, cantando, chorando, dançando, correndo...

- Hum....

- Não é possível que não se lembre! Você gostava de mim! Dizia isso! Dava pra perceber!

- ...

- Meu nome? Lembra do meu nome?

- Desculpe, mas não...

- Como? Você falou o meu nome tantas vezes. Mais do que falou, você brincava inventando músicas com o meu nome.

- Mas eu...

- Eu pensei em você todos esses anos. Lembro sempre de você. De nós dois, da nossa música...

- ...

- Nem da nossa música você lembra?

- Desculpe, mas não lembro de ter cantado o nome de ninguém e, muito menos, de ter uma música.

- Meu Deus! Foi tão ruim assim? Porque pra bloquear assim... Carlos, quase fomos morar juntos!

- Como é?

- Quase fomos embora de Brasília pra morar juntos em Florianópolis.

- Não, não! De que você me chamou?

- Carlos! Você não é o Carlos?

- Não! Não canto, não tenho música e não sou o Carlos!

- ...

- Mas sempre tive vontade de ir morar em Florianópolis...

Aniversário de Casamento

Espero a chegada dele com ansiedade. Não quero sentar pra não amassar o meu vestido, não quero ficar em pé pra não machucar os meus pés com o salto alto. Quando penso em quantas horas eu fiquei me preparando pra esse encontro, percebo o quanto ele é importante pra mim e o quanto eu me sinto bem fazendo isso por ele.

O cabelo está mais curto, sofri na depilação por horas, gastei uma grana com um conjuntinho novo de calcinha e sutiã e retirei a maquiagem toda por duas vezes por não achar que a cor da sombra estivesse boa. O que será que ele vai achar de tudo isso?

Acho que exagerei um pouco no perfume, só consigo sentir o cheiro dele. O Márcio odeia quando eu passo perfume demais. Será que eu deveria tomar uma ducha pra amenizar a situação? Mas só faltam dois minutos para a hora que nós combinamos. De repente se eu me lavasse rapidinho. Só mesmo uma água no corpo.

Tiro o vestido na sala mesmo e o coloco com todo carinho em cima do sofá, corro pro banheiro só de lingerie e nem me preocupo em regular a temperatura da água. Claro que está gelada e eu tento não morrer congelada enquanto salvo a escova do cabelo. Mas dá tudo certo.

Saio, me enxugo rapidamente, coloco novamente a calcinha e o sutiã e volto pra sala, onde o vestido me aguarda bem quietinho. Depois de pronta novamente percebo que o cheiro do perfume parece estar agora pior do que antes, meio estranho, como se tivesse sido lavado. Corro pro banheiro e coloco só um pouco nos pulsos, o suficiente pro corpo inteiro.

Resolvo não calçar o sapato. Assim é mais fácil ficar em pé. Mas se o Márcio chega e me pega descalça vai passar uma hora falando que nunca o espero pronta. Resolvo, então, deixar o par bem perto de onde estou pra que nenhuma briga aconteça.

Olho pro relógio e dois minutos já passaram da hora marcada. Se fosse eu, escutaria um monte de bobagens. Mas pra que ficar comparando. É o nosso aniversário de casamento. Depois de 12 anos já não vale mais a pena ficar brigando por qualquer coisa.

Sento para esperá-lo e penso em telefonar, mas controlo a minha vontade, mesmo com o telefone olhando pra mim daquele jeito. De repente seria bom beber uma taça de vinho, já que ele não chega. Mas o meu hálito não ficaria muito agradável depois de um vinho.

Sem ter o que fazer e pra não enlouquecer enquanto o espero, pego meus sapatos e vou para o quarto de tv. Odeio esse sofá, parece que ele vai engolir a gente. Sento e ligo a televisão. Está passando o jornal, mas eu não sei porque prestar atenção em tanta desgraça. Fico ali olhando e pensando nas muitas coisas que eu tenho que fazer com as crianças no dia seguinte. Será que elas estão bem?

Pego o telefone e ligo pra casa da minha mãe. Ela atende como se tivesse acabado de correr uma maratona. “Tudo bem por aí, mãe?”, “ele tem que colocar o aparelho”, “amanhã eu te conto tudo”, “beijos e boa noite”.

Desligo o telefone e penso novamente em ligar pro Márcio. Mas não, não vale a pena. Olho pro relógio e, apesar de parecer uma eternidade, parece que o tempo não andou. Fiz tudo isso em dois minutos? Será possível?

Ele sempre faz isso comigo, eu me arrumo toda e nada dele aparecer. Deve ter encontrado algum amigo e resolveu esticar pra algum boteco do caminho. Provavelmente nem se deu conta de que hoje é o nosso aniversário de casamento. Já não quero mais fazer nada com ele.

Faço questão agora de deixar que o sofá me amarrote toda, já não estou mais sentada, deitei pra ver se pego no sono.

O trinco da porta faz um barulho. É ele. Idiota! Está cinco minutos atrasado. Vou fingir que estou dormindo e assim ele vai ver o quanto eu estou magoada com a sua falta de atenção.

Há exatos 12 anos eu agüento esse tipo de descaso, mas agora não vai mais ser assim. Esse foi o nosso último aniversário. Amanhã eu vou pra casa da minha mãe.

Os passos se aproximam da sala de tv. Tento controlar a respiração pra não demonstrar a minha revolta. Não quero falar com ele, não quero olhar para a cara dele. Enquanto sinto tanto ódio, ele passa a mão levemente em meu braço e sussurra em meu ouvido: “amorzinho?”.

Amorzinho?! Se fosse assim chegaria na hora, né?

Ele repete e eu abro os olhos fingindo que estava no melhor dos sonhos. Não falo nada. Na minha frente está o homem por quem eu me apaixonei e com quem eu resolvi que passaria o resto da minha vida toda. Em suas mãos um buquê de tulipas vermelhas, as minhas favoritas.

“Perdi a hora porque não achava a cor que você gostava, parecia que só tinham tulipas laranjas e amarelas nessa cidade. Ainda bem que encontrei essas. Era pra ser uma dúzia, mas lá só tinha essas oito.”

Tudo Errado

O marido e a esposa não tinham uma vida boa. Ele era a criatura mais chata da face da terra e ela, há muito, não conseguia mais olhar para a cara dele. Tinham se casado levados pelos primeiros momentos da paixão. Depois de muito sexo, resolveram que não podiam mais viver um sem o outro.

Balela! O sexo rareou e eles começaram a descobrir suas reais personalidades. Ela era implicante, ele, além de muito chato, não tinha conteúdo. Foram levando uma vida assim, mais pela vergonha do fracasso do que pela vontade de estar juntos.

Como já não conversavam, os programas favoritos eram restaurantes e cinema. Locais onde não se fala muito. Gordos, muito gordos mesmo, conheciam todos os restaurantes legais da cidade e os seus pratos mais interessantes. Já não comiam civilizadamente, a velocidade das garfadas fazia com que as palavras quase não existissem e, para eles, assim era perfeito.

O filme da vez era Melinda e Melinda, de Woody Allen. A esposa já assistira todos os filmes dele. O marido achava-o intelectual demais. Estavam sentados, numa sala lotada e em silêncio absoluto, quando apareceu na tela Daniel Sunjata, um dos namoradinhos da protagonista.

O marido, sem nenhum aviso, falou em alto em bom som:

- Puta que pariu! Isso não é um ator, é um modelo! E modelo de cueca!

A esposa, com a boca aberta, olhava para ele sem saber o que falar. Ele virou para frente e não falou mais com ela. O silêncio entre eles durou mais de uma semana. Ninguém queria falar sobre o assunto.

Durante muitos dias, a esposa só conseguia pensar em como alguém, ao ver um ator totalmente vestido (sim, ele estava de calça, camisa e pulôver) conseguiu imaginar um modelo de cueca? Aliás, quem sabe o que é um modelo de cueca?

Pouco tempo depois se separaram e, para alegria geral dos amigos da esposa, eles nunca mais se encontraram. E para decepção dos amigos do marido, hoje ele faz shows travestido na boite gay mais famosa da cidade.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Movimento

Sinto lá no fundo que o tempo está passando, mas nada se move. É como se eu estivesse dentro de um filme pausado. Até ouço os gritos das pessoas lá fora, mas não consigo olhar para elas. E fico aqui, estática, esperando o tempo passar...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Ai que calor!

Em mais uma tarde quente, Marília resolveu juntar suas coisas e sair pela rua observando as pessoas. Será que só ela ficava irritada com aquele calor? Será que as marcas molhadas nas blusas só envergonhavam a ela? E aquele bigodinho ridículo de suor, ninguém notava?

Sem pensar no quanto seria ruim andar embaixo daquele sol e totalmente dedicada à pesquisa, lá foi a pequena com um caderninho e uma caneta na mão. Primeiro tentou ficar parada no banco da rua, mas estava quente demais e a impressão que ela tinha era a de que estava sentada na chapa de panqueca. Foi para uma árvore próxima a banca, mas uma outra pessoa já estava ali usufruindo da sombra. Como sua mãe não gostava que ficasse perto de gente desconhecida, acabou voltando para casa e sentando na porta mesmo.

Apesar do pouco tempo que passara ali, Marília achava que já tinha perdido tempo demais de sua vida esperando alguém passar na rua. Estava quase se levantando quando viu o carteiro se aproximando. Ela procurou uma folha em branco e destampou a caneta.

"Carteiro"

O pobre suava mais do que garrafa gelada em cima da mesa. As pernas quase não levantavam do chão e a camisa estava completamente molhada. O rosto dele estava vermelho e a mão estava colocada em cima da barriga, daquele jeito que fazemos quando sentimos "dor de veado".
A menina olhava curiosa. Não pensou duas vezes e começou a escrever:

"O carteiro já deve estar acostumado com o calor. Ainda não tirou a camisa e ainda passou por aqui sorrindo pra mim e passou devagar, para que eu visse bem o sorriso. Será que homens sentem menos calor do que as mulheres?"

Pouco tempo depois passa uma babá empurrando um carrinho com um bebê dentro. Ela está com o cabelo preso e está com pressa. O bebê não pára de pronunciar sílabas soltas e balança as pernas e os braços como se essa fosse a coisa mais gostosa do mundo. Antes de passar pela frente da menina, a babá pára e oferece uma pequena mamadeira de água ao neném. Ele pega a mamadeira, bebe um golinho e começa a sacudí-la loucamente. Cada gotinha de água que cai em seu rosto o faz sentir a maior alegria do mundo.

A menina não pensa duas vezes:

"Babá e bebê"

"Mais uma descoberta: bebês não sentem calor! Deve ser porque dentro da barriga das nossas mães é quente pra burro! Babás devem sentir calor, mas deve ser pouco. Ela deu uma mamadeira de água para ele (ele nem quis!), se fosse eu teria tomado um gole antes. Ou seja, sou calorenta demais para ser babá."

Mesmo depois que a babá some de seu campo de visão, Marília só consegue pensar em como seria bom uma água bem gelada. Ela resolve entrar em casa e, na cozinha, dá de cara com sua mãe.

- Onde você tava, filha?
- Tô fazendo uma pesquisa, mãe.
- É mesmo? Onde?
- Aqui na rua mesmo...
- Nossa, filha! Mas nesse calor?

Os olhos da menina brilharam e ela correu para escrever em seu caderninho.

"Mãe"

"Não posso ser carteiro, babá e nem bebê, mas acabei de descobrir que eu posso ser uma mãe tão legal quanto a minha!"
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