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sábado, 5 de janeiro de 2008

Ai que calor!

Em mais uma tarde quente, Marília resolveu juntar suas coisas e sair pela rua observando as pessoas. Será que só ela ficava irritada com aquele calor? Será que as marcas molhadas nas blusas só envergonhavam a ela? E aquele bigodinho ridículo de suor, ninguém notava?

Sem pensar no quanto seria ruim andar embaixo daquele sol e totalmente dedicada à pesquisa, lá foi a pequena com um caderninho e uma caneta na mão. Primeiro tentou ficar parada no banco da rua, mas estava quente demais e a impressão que ela tinha era a de que estava sentada na chapa de panqueca. Foi para uma árvore próxima a banca, mas uma outra pessoa já estava ali usufruindo da sombra. Como sua mãe não gostava que ficasse perto de gente desconhecida, acabou voltando para casa e sentando na porta mesmo.

Apesar do pouco tempo que passara ali, Marília achava que já tinha perdido tempo demais de sua vida esperando alguém passar na rua. Estava quase se levantando quando viu o carteiro se aproximando. Ela procurou uma folha em branco e destampou a caneta.

"Carteiro"

O pobre suava mais do que garrafa gelada em cima da mesa. As pernas quase não levantavam do chão e a camisa estava completamente molhada. O rosto dele estava vermelho e a mão estava colocada em cima da barriga, daquele jeito que fazemos quando sentimos "dor de veado".
A menina olhava curiosa. Não pensou duas vezes e começou a escrever:

"O carteiro já deve estar acostumado com o calor. Ainda não tirou a camisa e ainda passou por aqui sorrindo pra mim e passou devagar, para que eu visse bem o sorriso. Será que homens sentem menos calor do que as mulheres?"

Pouco tempo depois passa uma babá empurrando um carrinho com um bebê dentro. Ela está com o cabelo preso e está com pressa. O bebê não pára de pronunciar sílabas soltas e balança as pernas e os braços como se essa fosse a coisa mais gostosa do mundo. Antes de passar pela frente da menina, a babá pára e oferece uma pequena mamadeira de água ao neném. Ele pega a mamadeira, bebe um golinho e começa a sacudí-la loucamente. Cada gotinha de água que cai em seu rosto o faz sentir a maior alegria do mundo.

A menina não pensa duas vezes:

"Babá e bebê"

"Mais uma descoberta: bebês não sentem calor! Deve ser porque dentro da barriga das nossas mães é quente pra burro! Babás devem sentir calor, mas deve ser pouco. Ela deu uma mamadeira de água para ele (ele nem quis!), se fosse eu teria tomado um gole antes. Ou seja, sou calorenta demais para ser babá."

Mesmo depois que a babá some de seu campo de visão, Marília só consegue pensar em como seria bom uma água bem gelada. Ela resolve entrar em casa e, na cozinha, dá de cara com sua mãe.

- Onde você tava, filha?
- Tô fazendo uma pesquisa, mãe.
- É mesmo? Onde?
- Aqui na rua mesmo...
- Nossa, filha! Mas nesse calor?

Os olhos da menina brilharam e ela correu para escrever em seu caderninho.

"Mãe"

"Não posso ser carteiro, babá e nem bebê, mas acabei de descobrir que eu posso ser uma mãe tão legal quanto a minha!"

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