O saber juntar palavras é uma arte. Todos nós sabemos... Alguns, como eu, produzem muito, mas têm vergonha de mostrar. Essa é uma tentativa de liberação. Será que vai?
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Coisa de cinema
Alguns metros depois, ouviu novamente um barulho. Ao olhar para o lado, viu que uma das moitas próximas se mexia. Pensou em ir conferir o que era. Pensou de novo e retomou o caminho.
Na moita dois lobos maus conversam:
- Falei que isso era coisa de cinema...
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
OOOOPS!
Na verdade, só caem os acentos dos ditongos abertos (ei e oi) em palavras paroxítonas. Como sabemos, herói não é paroxítona e sim oxítona, portanto o acento continua ali e o herói pode voltar a sorrir e a salvar o mundo como fazia antes. Mas os seus feitos passam a ser heroicos a partir de agora, sem acento para abrilhantar.
O pingüim pode continuar chorando. No caso dele, já era mesmo!
domingo, 5 de outubro de 2008
Mudança Ortográfica
Ele estava ali quietinho no canto, mais sem graça do que sempre esteve em toda a sua gloriosa vida.
Era conhecido por sua destreza e por seus grandes feitos, mas sentia que algo muito importante tinha sido tirado dele. Assim sem aviso, sem grande alarde, mas doía tanto.
Quem via a cena sentia quase o mesmo aperto no peito. Um misto de saudade e de compaixão.
E ele continuava sentado olhando para o nada e lembrando-se que agora era só um heroi. Heroi assim diferente mesmo, sem o acento que o acompanhara a vida inteira e que deixava o seu nome tão mais pomposo.
De repente balançou a cabeça e sorriu discretamente. Em sua cabeça pensava que seu acento fazia falta mas que, ao mesmo tempo, tudo seria muito pior se fosse um pinguim.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Assiduidade
- Saber eu até sei, mas não consigo!!!
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Barack Osama
- Mãe, sabia que eu não gosto desse homem?
E eu sem entender nada:
- Não gosta, filho?! Mas por quê?
Ele todo sério, fazendo pose de quem já sabe das coisas, emendou:
- Porque ele está envolvido em muitas guerras. Eu vi na TV.
Achando graça, mas tentando não demonstrar, expliquei que Barack Obama e Osama Bin Laden eram duas pessoas diferentes. Imagina o nó que isso deve ter dado na cabeça do bichinho.
Experiências Insones Vazias
Sentada, na frente do prédio, conheci uma árvore que nunca tinha visto antes e percebi que posso ver quando os carros chegam no calibrador do pneu no posto mais próximo. No mais, o silêncio menos silencioso que eu já ouvi.
Alguém passava por perto carregando algo em um carrinho de mão que rangia quase como as portas do restaurante que se fechava atrás de mim. Alguns carros iam e vinham e um motor de moto roncou diferente.
Pessoas conversavam ao longe e, de vez em quando, uma música parecia surgir do nada toda vez que a porta do pub vizinho se abria para que alguém saísse.
No meio de tudo isso, uma mulher muito nervosa gritava ao telefone algo sobre provas, processos e telefonemas anteriores. Algo como um cancelamento não efetuado ou alguma conta não quitada.
Antes do próximo som, vi ao longe um homem chegar com sua barulhenta bicicleta. Ele passou na minha frente, fez a volta próximo e, sumiu atrás de outro prédio. Enquanto ele sumia, resolvi voltar para casa.
Subindo as escadas ainda pensei em qual seria a próxima música do pub ou em qual seria o fim da conversa com o atendente de telemarketing, mas já estava perto demais para voltar. Entrei e fui me deitar.
Diante da (in)utilidade da experiência cheguei a uma conclusão: preciso voltar a dormir!
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Virundum próprio
Hoje alguma coisa me fez lembrar de um virundum - quando a gente escuta uma música, acha que sabe a letra e canta uma coisa completamente diferente sem a menor noção do que está realmente sendo dito - que marcou a minha história.
Sei lá porque, mas de noite a minha filha estava rindo no quarto e eu perguntei o que era, ela disse que estava em uma comunidade do Orkut onde as pessoas contavam as letras de música completamente diferentes do que eram no original.
A idéia já estava na cabeça e aquilo mais parecia um sinal de "escreva!"
Vamos à história:
Estávamos eu e minha filha voltando da escola dela quando começa a tocar no rádio a mais nova música dO Rappa. Todo mundo sabe que se existe uma música boa para a gente entender errado o que o cara diz, ela tem grandes chances de ser do Falcão, o vocalista da banda O Rappa.
Enchi a boca para cantar o refrão, que era a única parte que eu conhecia da música:
- ♫Arte Yemambáaaa...♫
- O que, mãe?
- Arte Yemambá, filha...
Falei com tanta segurança que ela ficou por alguns segundos com o olhar meio perdido, possivelmente pensando que cantava errado, mas querendo saber o porquê daquilo.
- ...É uma arte indígena muito antiga.
Na explicação, devo ter vacilado em algum momento, pois ela explodiu numa sonora gargalhada.
- Que é? Vai dizer que você entende o que ele está cantando?
- Atirei-me ao mar?
- Ah...
E fiquei eu com cara de tacho, olhando para frente e querendo chegar logo em algum lugar para esquecer daquilo. Mas a história rodou a família, os amigos e virou até toque de celular para as minhas chamadas...
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Tudo tão dentro da gente
Pois é, tudo isso se deve à neutrofina, hormônio liberado pelo nosso organismo e que faz tudo ficar lindo, emocionante, perfeito e desesperado. Mas tem um pequeno defeito: seu prazo de validade é de apenas dois anos.
É geralmente depois deste período que tudo volta ao normal. A pessoa amada tem defeitos que começam a te incomodar, o tempo juntos não é mais tão perfeito e as ligações começam a durar o tempo normal.
Mas nem tudo está perdido, sempre há chance de uma grande paixão virar amor de verdade. Basta torcer para que a ocitocina (uma enzima ligada ao aleitamento materno) tome o seu lugar e mantenha, ao menos, o sentimento pela pessoa que tempos atrás te deixou tão perto do céu.
E é assim... Hormônios e enzimas equilibrados são capazes de manter ou não a felicidade de um casal.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Conversa surreal
– Na verdade, eu acho que sou meio assim...
– Hum...
– Assim, meio primata demais!
– ...
– Caramba! Será que eu sou o elo perdido?
– Claro que não!
– É... Eu não sou exatamente o elo perdido, mas eu sou descendente dele.
– Claro que não!
– Ué, mas você também é...
– Ah é!
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Que carta de tarô é você?
Como ando sem muita inspiração ultimamente e sem tempo de blogar, achei uma boa idéia e fiz o meu também...
You are The Moon
Hope, expectation, Bright promises.
The Moon is a card of magic and mystery - when prominent you know that nothing is as it seems, particularly when it concerns relationships. All logic is thrown out the window.
The Moon is all about visions and illusions, madness, genius and poetry. This is a card that has to do with sleep, and so with both dreams and nightmares. It is a scary card in that it warns that there might be hidden enemies, tricks and falsehoods. But it should also be remembered that this is a card of great creativity, of powerful magic, primal feelings and intuition. You may be going through a time of emotional and mental trial; if you have any past mental problems, you must be vigilant in taking your medication but avoid drugs or alcohol, as abuse of either will cause them irreparable damage. This time however, can also result in great creativity, psychic powers, visions and insight. You can and should trust your intuition.
What Tarot Card are You?
Take the Test to Find Out.
terça-feira, 22 de julho de 2008
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Alguém me explica?
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Indigna Nação
Mas a indignação é tanta que eu não consigo nem achar as palavras e, por isso, vou utilizar as tão bem escritas de Chico Buarque na música 'O Que Será (À Flor da Pele)'.
E ela foi escrita para o período da ditadura, mas o "nem nunca terá" além de verdadeiro é mais do que apropriado.
Que andam suspirando
Pelas alcovas?
Que andam sussurrando
Em versos e trovas?
Que andam combinando
No breu das tocas?
Que anda nas cabeças?
Anda nas bocas?
Que andam acendendo
Velas nos becos?
Estão falando alto
Pelos botecos
E gritam nos mercados
Que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza
Nem nunca terá!
O que não tem concerto
Nem nunca terá!
O que não tem tamanho...
O que será? Que Será?
Que vive nas idéias
Desses amantes
Que cantam os poetas
Mais delirantes
Que juram os profetas
Embriagados
Está na romaria
Dos mutilados
Está nas fantasias
Dos infelizes
Está no dia a dia
Das meretrizes
No plano dos bandidos
Dos desvalidos
Em todos os sentidos
Será, que será?
O que não tem decência
Nem nunca terá!
O que não tem censura
Nem nunca terá!
O que não faz sentido...
O que será? Que será?
Que todos os avisos
Não vão evitar
Porque todos os risos
Vão desafiar
Porque todos os sinos
Irão repicar
Porque todos os hinos
Irão consagrar
E todos os meninos
Vão desembestar
E todos os destinos
Irão se encontrar
E mesmo padre eterno
Que nunca foi lá
Olhando aquele inferno
Vai abençoar!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!
O que não tem juízo...
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Vista Cansada
Tentei buscar na memória pessoas fazendo isso no meu passado e só me lembrei dos meus avós, mas com bem menos freqüência.
Aí comecei a me questionar: Não se usava muito óculos para vista cansada antigamente ou eu estou ficando velha mesmo?
terça-feira, 8 de julho de 2008
Foi
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Voltando...
terça-feira, 1 de julho de 2008
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Ainda não acabou...
"Seria loucura pensar numa vitória certa ou fácil. A vitória terá de ser umedecida com um suor forte, épico."
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Trapalhada
Foi o que aconteceu comigo hoje.
Uma amiga do trabalho estava com o computador dando os primeiros sinais de morte próxima. Eu e minha boca inqueita acabamos tomando partido da história.
"Por que você não salva tudo na rede?"
"É mesmo, né?", ela respondeu.
Depois da transferência feita, a descoberta de que a pasta poderia ser acessada por outras pessoas.
"Ah, não quero deixar os meus textos que ainda nem foram publicados aqui não."
"Então é melhor trazer uma pen drive amanhã e gravar tudo", eu disse.
"É, pode apagar tudo aí"
"Mas está salvo em outro lugar?"
"Está, ué!"
Sem checar nada, apertei o maldito botão delete e, claro, os arquivos não estavam em lugar nenhum.
Até achei uma pasta com o mesmo nome na lixeira e dei um restaurar, mas nada aconteceu.
Depois de muita agonia e desespero, ela teve que sair para cobrir uma pauta e eu fiquei com aquela droga de computador na minha frente, que sempre respondia que os arquivos que eu queria não podiam ser encontrados e que os atalhos não levavam a lugar nenhum.
Ligações apavoradas e lá vem o povo da informática para tentar me salvar.
Procura daqui, procura de lá.
"Tem aquele jeito de recuperar..." um disse para o outro.
Entraram em um programa e foram atrás dos backups. Encontraram, mas um de antes das gravações e outro de depois. Ou seja, não adiantou nada.
Um deles ainda falou que conseguiria fazer alguma outra coisa e assumiu o posto. Mexe daqui, mexe de lá e muitos dos textos foram recuperados, mas mesmo assim não foram todos.
Aquela situação...
Coração apertadinho, milhares de pedidos de desculpa, vontade de chorar.
E a aquele desejo soberano de ter sumido junto com os arquivos, mas com os que nunca mais voltariam.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Ganhar tempo?
sábado, 7 de junho de 2008
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Passou
Traz com ele aquele gosto amargo que transforma tudo
E torna belas coisas em cotidiano.
Os sons emudecem,
As luzes se apagam
E o riso constante só chega de vez em quando.
O que foi grande um dia, vai diminuindo, diminuindo
E chega quase perto de ser nada...
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Já dizia Juliane...
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Rumo às semi-finais
terça-feira, 13 de maio de 2008
Meme
Muito obrigada, Luma! Um grande beijo para você...
- Um nome: Cecília
- Uma palavra: saúde
- Um sentimento: amor
- Um verbo: ver
- Um gesto: abraço
- Um 1º lugar: os filhos
- Uma cor: verde
- Um objeto: iPod
- Um dia: sábado
- Um mês: fevereiro
- Um ano: 1974
- Uma letra: B
- Uma estação: inverno
- Uma flor: íris azul
- Uma fruta: maçã
- Uma matéria: qualquer língua estrangeira
- Um passatempo: filmes
- Um esporte: futebol
- Um herói: Batman
- Um exemplo: dindo João
- Um filme: Casablanca
- Uma música: God Only Knows, The Beach Boys
- Um programa de TV: C.S.I.
- Um time: Fluminense
- Uma mania: puxar cabelo
- Uma profissão: crítica de cinema
- Um sonho: conhecer Paris
- Uma coisa importante: perdoar
- Uma sorte: poder viajar
- Um medo: a doença voltar
- Um amor: o atual e eterno
- Um perfume: Dolce e Gabbana
- Adoro: estar com os amigos
- Odeio: comer sozinha
- Amigos: os que estão ao meu lado sempre
- Um lugar: minha casa
- Um cheiro: chocolate
- Um horário: fim da noite
- Um sorvete: pistache
- Um ciúme: de coisa nova que eu ainda não explorei
- Uma cidade: São Paulo
- Uma dor: a notícia da metástase, há nove meses
- Uma saudade: vô Ruy
- Um hobby: escrever sobre filmes
- Uma peça de roupa: calça jeans
- É indispensável: acreditar
- Um website: Last.FM
- Um defeito: implicância
- Uma qualidade: saber ouvir
- Uma comida: vatapá de frango da vó Ziela
- Um doce: nozes au fondant
- Uma lanchonete: Subway
- Um restaurante: Mori
- Uma frase: Já pode abrir os olhos...
terça-feira, 29 de abril de 2008
Dourado
Foi dele que recebi o meu primeiro selo!

Muitíssimo obrigada pelo presente, pela presença e pela força, Dourado!
Indico o selo para o blog Esse é bom!, da Dona Bruna Bites...
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Vácuo
No vazio das horas, são estas as minhas companhias
Com elas converso sobre o nada
Crio uma lógica inexistente e incompleta
Penso na insignificância de tudo
Sinto as palavras querendo explodir ao primeiro piscar de olhos
Até a noite se cala
Para que as coisas possam fazer menos sentido
E os sentidos percebam o abstrato
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Seres invisíveis
Em um lugar público, onde teoricamente estariam ricos e pobres, mas só aqueles que têm dinheiro conseguem freqüentar, conheço o rosto de várias pessoas. Alguns estudam aqui, outros estudaram e hoje são professores, mas todos eles passam por mim como se eu fosse parte da mobília, uma coisa inanimada que sempre esteve ali, mas não é importante.
Aliás, a minha existência só é notada em casos extremos. Ontem não vim trabalhar, estava no enterro de minha mãe. Só percebi que sentiram a minha falta quando, no corredor, uma aluna falou que o banheiro estava um nojo, mas nem isto foi falado para mim, foi para outra pessoa, como se eu não pudesse escutar.
Conto cada minuto que estou aqui dentro como um exercício de sobrevivência. Espero as horas de pausa para estar com outros que sentem a mesma coisa que eu, mas também não podem fazer nada para mudar a sua invisibilidade.
Antes, pensava que se fosse um cachorro vagando pelo campus, receberia mais afeto do que recebo hoje, mas agora tenho, lá no fundo do meu peito, uma esperança: minha filha está estudando muito e sonha em entrar para esta universidade. Tenho certeza que, a partir deste dia, pelo menos uma pessoa vai me olhar nos olhos, saber o meu nome e me cumprimentar.
Porque "No País das Ritalinas"
Eu tenho um transtorno muito conhecido atualmente, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Por causa dele sou uma pessoa muito impulsiva e desatenta e não sou muito boa em tarefas de arrumação e, muito menos, em finalizar as coisas que começo.
Como hoje em dia para tudo existe remédio, criaram um medicamento para melhorar a vida das pessoas que têm este mesmo problema, a Ritalina.
Um dos efeitos colaterais da droga, em mim, é que a criatividade, que já sobra aqui dentro, aumenta e eu penso em escrever o tempo todo, sem parar. As histórias vão se formando em minha mente sem eu nem perceber e a vontade de falar sobre tudo que vejo também aumenta muito. Por isso resolvi virar blogueira, para colocar para fora essa quantidade enorme de coisas e não ocupar tanto espaço em minhas prateleiras. Aqui, procuro falar das coisas que invento, mas ainda tenho um pouco de vergonha. No meu outro blog, Cenas de Cinema, falo dos filmes que assisto e, como estou falando da criação dos outros, não fico tão tímida.
Então é isso, conviver com o transtorno não é fácil. Mas agora tudo está muito mais calmo e minha vida parece mais organizada. Na verdade, é como se hoje eu estivesse entrado em um outro mundo, por isso, peguei emprestado o título do clássico de Lewis Carroll. E aqui estou eu: Cecilia no País das Ritalinas.
terça-feira, 22 de abril de 2008
Cadê o sentimento?
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Walter
Na pequena cidade onde moravam, todos acreditavam que era mudo, menos a jovem Alice, colega de escola desde a primeira infância, que jurava a quem quisesse ouvir que já ouvira a voz de Walter.
Provar que o rapaz falava virou um dos objetivos de Alice. No começo Walter não percebia, mas ela estava em todos os lugares que ele estava. Enquanto para ela, tudo não passava de uma pesquisa, para ele as coisas iam tomando outras proporções. Só pensava nela, não via a hora de sair de casa e encontrá-la. Arrumava-se todo, perfumava-se e não queria mais ficar em casa. Há muito, a paixão crescente não era discreta e Alice resolveu que se aproveitaria dela para provar que ele falava sim.
A mãe de Walter também notou a mudança de comportamento do filho e resolveu que já não mais sairia com ele. Em um desses dias, Alice viu a senhora entrando em um mercado local sem o filho e não perdeu tempo, pegou sua bicicleta e foi para a casa deles.
A alegria do menino ao chegar para abrir a porta foi algo sem limites. Ele gesticulava freneticamente, arrumava o sofá, parecia beber alguma coisa sem ter nada nas mãos. Eram tantos gestos, que Alice sentiu-se meio tonta. Ela segurou-o pelos ombros, olhou no fundo de seus olhos, pediu calma e começou a falar:
- Eu notei que você gosta de mim. É verdade?
Walter, eufórico, respondeu que sim com a cabeça.
- E você quer namorar comigo? - Ela disse.
Novamente, apenas um aceno de cabeça.
- Eu te dou um beijo, mas só se você falar que me ama.
Após ouvir estas palavras, a expressão de Walter era de choque. Queria beijá-la mais do que tudo na vida. Ao mesmo tempo lembrava de sua mãe falando que nunca, jamais, sob hipótese alguma, deveria falar. Seus olhos encheram-se de lágrimas, mas Alice continuava insensível:
- Vamos, fala! É só para mim. Prometo que não conto para ninguém.
O menino ainda fez que não com a cabeça e tentou desviar o olhar, mas ela segurou em seu rosto e disse com um olhar de desapontamento:
- Se você não falar, eu vou embora, e nunca mais, nunca mais, eu chego perto de você.
Walter não conseguia nem descrever o que estava sentindo. Parecia não ter mais estômago e suas pernas estavam muito bambas. Sabia que não podia falar, mas não queria ficar sem Alice. Abraçou-a e, antes que pudesse pensar melhor, olhou-a nos olhos, abriu a boca e mugiu.
O susto da menina foi algo sobrenatural. Ela fugiu do abraço como um sabonete escorrega nas mãos ensaboadas. Olhava para Walter sem acreditar no que ouvira e aproximava a cabeça do ombro tentando ver se assim entendia, ou se desentupia o ouvido.
Ele nem notou que ela estava assim. Estava desesperado e, tentando explicar o que acontecera, mugiu novamente.
Mais um susto e Alice começou a caminhar lentamente para trás. Walter não queria que ela fosse embora, queria explicar, queria ficar com ela, queria o beijo que prometera. Caiu de joelho no chão e agarrou-a pelas pernas chorando e mugindo sem parar.
A menina queria sair dali, mas não conseguia mover-se. Sentia muito medo, mas, ao mesmo tempo, tinha pena dele.
De repente, a porta se abriu e a mãe de Walter entrou assustada. Ouviu o filho mugindo loucamente ao chegar perto da porta. Há muitos anos ele não fazia isso. Mas o sentimento de desespero não era nada perto do que ela sentira ao se deparar com a cena. A menina chata que vivia atrás de seu filho em pé e Walter agarrado em suas pernas chorando e mugindo em desespero.
Ela ainda tentou perguntar o que Alice estava fazendo ali, mas a única coisa que se podia ouvir na sala eram os mugidos. Estavam todos desesperados e foi Alice quem resolveu a situação. Passando por cima de todo o terror que estava sentindo, acariciou a cabeça de Walter e pegou em seus ombros. Os mugidos foram espaçando, até sumirem completamente.
Walter foi largando as pernas de Alice até deitar-se no chão. A menina ainda se ajoelhou ao seu lado e, com lágrimas nos olhos, pediu desculpa por fazê-lo passar por tudo aquilo. Deu um beijo em seu rosto e ajudou-o a se levantar e sentar no sofá.
A mãe ainda estava parada no mesmo lugar e assistia a tudo sem falar nada e nem se mover, tentava pensar no que faria, no que diria para a menina depois que tudo aquilo acabasse, ela iria querer saber.
Mas ela já sabia de tudo, com a calmaria e o silêncio, as coisas começaram a fazer sentido em sua cabeça. Beijou novamente o rosto de Walter e disse em seu ouvido:
- Eu vou embora agora, mas volto logo.
O menino, mais uma vez, apenas acenou com a cabeça, olhou-a nos olhos e tentou sorrir. Antes que a mãe conseguisse pensar em algo para falar, Alice virou as costas, abriu a porta e foi embora.
Pedalando rápido, com o vento batendo em seu rosto, lembrava de tudo que havia acontecido. Lembrou-se também de uma conversa que teve com o pai e na qual nunca acreditara. Uma vez, em uma reunião de família, ele comentara que, há muitos anos, buscando a cura de doenças graves, começaram a produzir embriões mistos de seres humanos e bovinos. Com o tempo, ficou proibida a morte destes embriões e alguns cresceram e se desenvolveram. Sabia-se que o novo ser era, na verdade, 99% humano e 1% bovino, mas ninguém sabia o que, na verdade, era diferente. O que era o 1%. Alice descobrira hoje.
Futebol é assim!
Aí é sentar quietinho no canto, beijar a camisa, esperar o próximo jogo, cumprimentar todos os alvinegros que vir pela frente e ignorar as chatices dos flamenguistas, que parecem habitar o mundo só para isso: atazanar!
domingo, 20 de abril de 2008
MEME: Os melhores e piores da estante
Para começar, tenho que indicar os cinco melhores autores da minha estante:
- Machado de Assis: em primeiríssimo lugar e isolado. O melhor de todos os tempos e em qualquer língua. Tem uma narrativa fantástica e sabe como abordar qualquer assunto usando sutileza, mas sem deixar de ser irônico. Um mestre!
- William Shakespeare: se alguém quer ler algo sobre as várias faces de um ser humano, eis a melhor opção. Apesar do inglês arcaico, não há como não gostar!
- Edgar Alan Poe: para quem gosta de contos de mistério e terror. Ele influenciou um monte de gente que faz muito sucesso até hoje e soube como escrever histórias que parecem nunca ficar antigas.
- Ruy Castro: o meu favorito para biografias. Quando começo a ler um livro dele, tenho muita dificuldade de parar.
- Carlos Drummond de Andrade: adoro suas poesias, que falam de coisas cotidianas e corriqueiras de uma maneira encantadora.
- Paulo Coelho: apesar de ser adorado por todos, não vejo sentido em tanto sucesso. Não gosto de nada nos livros dele.
Então é isso! Agora tenho que indicar o meme a outros amigos blogueiros. Os escolhidos foram:
- Dourado, do Querum blog gratuito
- Pathy, do Eu e Minhas Versões
sábado, 12 de abril de 2008
Shakespeare e o amor
(O Mercador de Veneza)
O deleite imaginário é de tal modo doce
Que me encanta os sentidos."
(Trólio e Cressida)
Inconstantes e volúveis em todos os sentimentos,
Menos na imagem fixa
de criatura que amam."
(Noite de Reis)
"O amor, de fato, é só à primeira vista"
(Como Gostais)
E por isso é alado, e cego, e tão potente"
(Sonho de uma Noite de Verão)
o amor primaveril, sempre mudável,
que ora o sol patenteia, resplendente,
ora em nuvem se esconde, impenetrável"
(Os Dois Cavaleiros de Verona)
Ausente, sempre estás presente junto a mim.
Segue-te meu pensar por longe que viajes
E com ele estou eu, como ele está comigo."
(Soneto 47)
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor"
(Hamlet)
Purificado, é um fogo chispeante nos olhos dos amantes.
Contrariado, um mar alimentado pelas lágrimas dos amantes.
Que mais ainda? Loucura prudentíssima,
fel que nos abafa, doçura que nos salva"
(Romeu e Julieta)
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Quarto Escuro
“Você?! O que quer aqui? Por que agora?”
Gente importante, gente insignificante
Aquela pessoa especial
Aquele cara chato
Cada um com a sua bagagem
Com a sua história
Reconheço os olhos tristes daqueles que magoei
E o rosto sereno dos que precisaram de mim
O pai, os filhos
O irmão, os vizinhos
E, aqui desse lado, você
Mas você também está ali
E acolá, e ali atrás, e mais adiante
Onipresente e constante
Com tantos olhares
Com tantos sorrisos
domingo, 6 de abril de 2008
Covardia
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Paciência
Mas para que gastar esse dinheiro se preciso encontrá-la agora, para tentar comprar a passagem?
Odeio promoções de passagens aéreas!
Círculo vicioso
- Não quero mais!
Ele ainda fez sinal de que falaria alguma coisa, mas ela se levantou, ajeitou a bolsa no ombro, virou de costas e foi embora.
Na verdade, ela achou que não conseguiria. Não era a primeira vez que tentava. E ele sempre fazia com que seu pensamento mudasse. Prometia mudar umas vezes, comprava flores em outras, mas sempre que ela prestava atenção novamente, já queria dizer isso para ele de novo.
O dia inteiro pensou em como faria para resistira àquele olhar. Resolveu então que iria no trabalho dele, pois lá ele não saberia o que fazer, não correria atrás dela, não choraria. Treinou umas 25 vezes na frente do espelho e foi.
Chegou lá sentindo que seu coração sairia pela boca, até os seus joelhos pareciam tremer. Entrou na sala e lá estava ele, lindo. Será que ela devia mesmo terminar? Antes que ele se levantasse ela sentou em sua frente.
Ele demorara a falar, como se estivesse prevendo algo. Mas, com uma fisionomia assustada perguntou se tudo estava bem.
A voz dele a fez abaixar os olhos por pouco tempo. Ao fitá-lo novamente sentiu mais uma vez aquela pontinha de dúvida, mas um filme rápido se formou em sua mente. Ele gritando, falando coisas que ela já não agüentava ouvir, a falta de assunto, o pouco caso, todos os desgostos e mágoas jogados para baixo do tapete.
Foi o suficiente. Ela endireitou-se na cadeira, olhou no fundo dos olhos dele e disse:
- Não quero mais!
Ele ainda fez sinal de que falaria alguma coisa, mas ela se levantou, ajeitou a bolsa no ombro, virou de costas e foi embora.
terça-feira, 1 de abril de 2008
Engarrafamento
A fila de carros na minha frente é inacreditável, assim como a que está atrás de mim e a que está ao meu lado. O som do carro está ligado num volume que normalmente me deixaria irritadíssimo, mas com o ar condicionado ligado no máximo e com essa sinfonia desafinada de buzinas descoordenadas não tinha mesmo muito jeito.
Lá de longe vejo o menino vendedor de balinhas. Ele as pendura apressadamente nos retrovisores dos carros. Ninguém nem olha, tirando aquela senhora gorda que já comprou tudo que passou por ela.
Ao meu lado, um menino de no máximo 20 anos canta alegremente com as janelas do carro meio abaixadas e com fones de ouvido. Como ele está agüentando o calor sem um ar condicionado? Como é que pode ele estar assim cantando? Como é que alguém pode ficar feliz num engarrafamento?
Me sinto irritado com a alegria desta criatura e acho que olho demais pra ele. Ele está me olhando de volta. Fico envergonhado por ter sido pego em flagrante, sentindo um misto de raiva e inveja dentro de mim. O rapaz, por sua vez, sorri pra mim. Aquilo é como um tapa na cara, mas eu tento me controlar e olho para baixo.
Merda! A minha calça está com uma mancha branca. Que diabos foi isso? Só pode ser pasta de dente. Pego o primeiro papel que alcanço e esfrego com força na calça pra ver se pelo menos disfarço. Secretamente, penso que estou esfregando a o sorriso na cara do cara ao lado, tentando apagá-lo.
O menino das balas chega até o meu carro, mal chega e já vai. Agora só vou vê-lo quando ele voltar recolhendo. Acho que esse não é aquele de sempre. Será que aconteceu alguma coisa com o outro? Há dois anos vejo esses meninos aqui e sequer sei o nome deles.
Por que as rádios têm tanto falatório? Se eu quisesse ouvir alguém falando, deixaria na CBN. Aliás, vou fazer isso. Pelo menos assim ninguém grita no meu ouvido que eu posso comprar isso ou aquilo em infinitas prestações.
Lá vem o menino recolhendo as balinhas. Olho pra ele e faço que não com a cabeça. Descubro que é o mesmo, mas com o cabelo cortado. Isso, de algum jeito me alivia.
O cara ao lado parece ter trocado de música. Agora só cantarola sem se movimentar tanto. Não era possível mesmo que aquela empolgação durasse pra sempre. Ainda mais aqui. Ainda mais agora.
Penso no quanto eu sou ridículo por me sentir melhor ao ver que meu vizinho de engarrafamento não está mais feliz. Além de estar estressado quero que todos se estressem também. Isso me deixa bastante envergonhado.
Olho para o rapaz, que olha novamente pra mim. Sorrio pra ele e ele me olha com a testa franzida, como se eu o tivesse paquerando ou algo do tipo. A vontade que eu tenho é de gritar que não é nada disso. Que só quero que ele fique feliz de novo. É lógico que não faço isso, mas ele vira a cara e parece que não pretende sorrir e nem me olhar nunca mais.
Graças a Deus o carro começa a andar, mas logo depois para de novo. Pelo menos um alívio: o meu vizinho de engarrafamento é outro. E está bem nervoso!
terça-feira, 18 de março de 2008
Macaco olha o seu rabo
Ninguém aqui é superior e os defeitos de cada um são próprios e intransferíveis, só tente mudá-los se você já não tiver nenhum. Como ninguém é assim livre de defeitos, cale-se.
Cale-se e ao observar o outro, pense em você, em tudo o que fez até então, o quanto sofreu por ser como é e o que em você pode irritar outra pessoa.
Então recolha-se... à sua insignificância, à sua imperfeição...
sexta-feira, 7 de março de 2008
Velho Chico
Queria dormir
Mas não conseguia
Pensava em Celeste
Pensava em Ana
Pensava em Maria
Pensava em tanta gente...
Lembrou do chefe
Do filho, do neto
E até do velho Rex
Mas estava cansado
E não queria mais lembrar
Queria descansar
Dormir e, quem sabe,
Não ter que acordar.
quinta-feira, 6 de março de 2008
De um sentimento
De
O
E
Sei
Sei
Coloco o
E na
Faço
E
Fico
E
É nessa
Devagarinho,
E
Saio
Sou
E
quarta-feira, 5 de março de 2008
Hora da Olívia
Hora de ir pra janela
e esperar Olívia passar.
Mas nada dela chegar.
Deve ter se atrasado!
Pode estar doente
ou ter um novo namorado!
Será que foi demitida?
Ou hoje é dia de ensaio?
Que nada! Lá vem ela!
Toda se rebolando
e com sorriso largo.
Atrasou de propósito,
pra me deixar assim:
com cara de bobo perdido
só pra poder rir de mim!
Jogo
Levantar.
terça-feira, 4 de março de 2008
Seus Olhos
Que me mostra o tudo e o nada
As coisas boas e lindas que existem no mundo
Que me leva para longe de casa
Mas que, ainda assim, me faz sentir segura
E feliz, muito feliz...
Feliz por percorrer esses caminhos todos os dias,
Todas as horas, minutos, segundos....
Feliz por saber que eles estarão sempre ali
Pra me levar a lugares tão lindos
Pois tudo que é lindo está dentro deles
Tudo aquilo que eu preciso para me acalmar,
Para me animar e me sentir bem
Meu refúgio
Onde eu gosto de entrar e tenho medo de sair
Onde tudo é só meu e só existe pra mim
Quando eles se afastam, me sinto perdida
É como se o caminho não existisse mais.
E me acalmo com a esperança da sua chegada
Que ela seja em breve, sempre
E que você me deixe, pelo resto da vida,
Fazer esta viagem e descobrir todos esses outros mundos
Que existem dentro de seus olhos doces e infinitos....
É Fato...
Sinto falta do pouco que já tivemos
E do muito que já perdemos.
Falta dos caminhos musicais que traçamos,
Do Angie transformado em Gatinha Manhosa,
Das terríveis versões brasileiras,
Dos milhares de revistinhas.
Falta das idas e vindas de nossa história.
Dos risos, das lágrimas,
Do Flamengo empatando e do gol de barriga.
Falta da sua voz amiga
E da sua ânsia por fazer as coisas certas.
Do meu fusca lindinho,
Do seu fusca sem chão.
Falta do seu cabelo grande na minha barriga,
Do seu cabelo curto nas minhas mãos.
O beijo sagrado no Rubble.
E as fotos na Esplanada?
A Dani dominando o espaço.
Sinto falta da Cinha e do Zinho,
Do Luiz Caldas cover tão trash,
Das suas composições
E do som das borboletas voando no parque.
Até do ciúme eu sinto saudade,
Até da falta de consideração,
Da lambança na minha sala.
Da primeira, da segunda e da última vez.
Falta dessa música que você levou de mim
E que te traz de volta
How I wish you where here.
Não como homem ou namorado,
Mas como a pessoa maravilhosa que você é,
Como o grande companheiro que foi,
Como amigo.
Falta das conversas, do carinho,
Da atenção e do seu violão.
De olhar nos seus olhos quando sonho contigo
E tenho a certeza de que você não está bem
Ou está bem demais, mas não partilha comigo.
Sinto falta da nossa turma,
Da idade que eu tinha quando você estava aqui,
Das nossas viagens e festas
Have you ever seen the rain?
E agora eu não queria o seu beijo,
Queria o seu abraço.
Não queria o seu amor,
Queria só o seu carinho,
A sua amizade.
A volta de algo que tivemos além do namoro,
Mas que causa ciúme nos seus e nos meus.
Queria você aqui pra ver que eu sou feliz,
Do mesmo jeito que quero te ver feliz.
Para cantar enquanto você toca,
Para discutir o jogo enquanto você quebra os óculos,
Para me mostrar que eu, às vezes, sou radical demais
E só pra ser meu amigo, mais nada...
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Sozinha
Consigo ver que muitas coisas não são tão necessárias
Que certos sacrifícios são dispensáveis
E que ninguém é tão importante pra mim
Como eu mesma sou
Sozinha com as estrelas, consigo enxergar
Uma completa estranha realidade
Noto que estou perdida em sentimentos
Transbordada em palavras
Todas elas ditas ao tempo
À vida
À minha própria solidão...
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Burrice
Era tão burra, tão burra, que quando o menino quis ouvir, não conseguiu falar nada
Eram tão burros, tão burros, que não souberam resolver sua paixão desesperada.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
Hoje, Amanhã e Depois
Hoje, amanhã e depois
Iluminando a minha vida
Com o brilho dos seus olhos
Traçando meu caminho
Com a fluidez dos seus passos
Adoçando meu dia
Com suas muitas palavras tão doces
Aqui, ao seu lado, é a minha casa
O lugar onde eu sempre quis estar
E de onde tenho medo de sair
Longe de você já desconheço a vida
Sinto meu coração
Mas não entendo o que ele diz
Porque tudo que ele repete é o seu nome
Tudo que meus olhos buscam são os seus
Pois neles está o meu mundo
O meu céu estrelado
E é por isso, meu amor,
Que você me faz feliz
E é por isso que eu quero você comigo
Hoje, amanhã e depois...
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Ciúme de Mãe
Ele tinha tantas que gostavam dele
Foi pegar logo uma que não sabe cuidar bem
Por que não a Ritinha?
“Ela era tão bonitinha e meiga e atenciosa comigo”
Ou a Cláudia?
Tão mais madura e segura do que queria
Essa é uma aventureira
Só pensa em se divertir, em estar na rua
Ele até começou a beber depois dela
Se não estiver experimentando drogas por aí
Ela parece não ter pais
Dorme aqui em casa como se fosse algo normal
E ainda tem coragem de dar bom dia quando acorda
Só o Pedrinho não vê o que precisa
Fica todo encantado, como se estar com ela fosse a melhor coisa do mundo
Melhor até do que estar deitado aqui, no colo da mãe dele.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Menina da Lua
De um jeito diferente, estar ao seu lado me deixa em paz.
Adoro nossas conversas
E o pouco tempo que passamos juntas,
Mas deixa eu sentar agora
Porque “celulite dói”
A sua voz divagando sobre o tempo
E a sua cabeça avoada
Que funciona quase como a minha
E essa nossa vida de peixe
Peixe que tem que aprender a viver
Num mundo que não é nosso
Onde largamos o nosso corpo
Mas não conseguimos respirar
E a gente se vê lá na lua
É lá que moram os nossos amores
Onde guardamos as nossas expectativas
Aqui sobram as portas de carro abertas
E as carteiras vazias, mas tão bagunçadas
Lá estão as visões, as idéias, as viagens
Aqui, nossas máquinas fotográficas e nossas canetas
Que mostram o resultado de toda essa nossa mistura
“E então?”
Então quero dizer que ter você por perto é bom
E que sou feliz por ter te encontrado
Porque você, menina da lua,
Você me faz bem!
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Ela e a Bola
E está te procurando
Pega, menina, que agora ela é toda sua
E só quer saber de você
O campo fica pequeno quando é a sua vez
Não dá para parar de olhar
Você pula, cai, levanta, vai pra esquerda, vai pra direita
E a bola vai junto
Não toma nem conhecimento do resto
Chuta, menina, que tá na hora
E lá vai a sua bola fazendo curva
Passa pela goleira, que não acredita
E balança mais uma vez a rede
Comemora, menina, que agora já foi
E o gol é todo seu!
Adeus a Tom Jobim
E,
Os
O
sábado, 12 de janeiro de 2008
Canto de um povo
Onde voa o urubu
As pessoas que aqui vivem
Não comem como tu
As crianças são famintas
E passam necessidade
Aquelas que sobrevivem
Clamam por piedade
À noite todos têm frio
E vontade de chorar
Minha terra tem gente
Que não tem onde morar
Minha terra tem pessoas
Incomuns noutro lugar
São pessoas que, mesmo sem nome
Não param de lutar
Minha terra tem um povo
Do qual deve se orgulhar
Não permita Deus que eu morra
Sem ver tudo melhorar
Sem ver meus compatriotas
Com motivos pra cantar
Sem ver todos os brasileiros
Com um teto, com um lar.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
...
- ...
- Não tá lembrando de mim não?
- ...
- A gente vinha todo dia aqui. Eu ficava horas com você. Te via rindo, cantando, chorando, dançando, correndo...
- Hum....
- Não é possível que não se lembre! Você gostava de mim! Dizia isso! Dava pra perceber!
- ...
- Meu nome? Lembra do meu nome?
- Desculpe, mas não...
- Como? Você falou o meu nome tantas vezes. Mais do que falou, você brincava inventando músicas com o meu nome.
- Mas eu...
- Eu pensei em você todos esses anos. Lembro sempre de você. De nós dois, da nossa música...
- ...
- Nem da nossa música você lembra?
- Desculpe, mas não lembro de ter cantado o nome de ninguém e, muito menos, de ter uma música.
- Meu Deus! Foi tão ruim assim? Porque pra bloquear assim... Carlos, quase fomos morar juntos!
- Como é?
- Quase fomos embora de Brasília pra morar juntos em Florianópolis.
- Não, não! De que você me chamou?
- Carlos! Você não é o Carlos?
- Não! Não canto, não tenho música e não sou o Carlos!
- ...
- Mas sempre tive vontade de ir morar em Florianópolis...
Aniversário de Casamento
O cabelo está mais curto, sofri na depilação por horas, gastei uma grana com um conjuntinho novo de calcinha e sutiã e retirei a maquiagem toda por duas vezes por não achar que a cor da sombra estivesse boa. O que será que ele vai achar de tudo isso?
Acho que exagerei um pouco no perfume, só consigo sentir o cheiro dele. O Márcio odeia quando eu passo perfume demais. Será que eu deveria tomar uma ducha pra amenizar a situação? Mas só faltam dois minutos para a hora que nós combinamos. De repente se eu me lavasse rapidinho. Só mesmo uma água no corpo.
Tiro o vestido na sala mesmo e o coloco com todo carinho em cima do sofá, corro pro banheiro só de lingerie e nem me preocupo em regular a temperatura da água. Claro que está gelada e eu tento não morrer congelada enquanto salvo a escova do cabelo. Mas dá tudo certo.
Saio, me enxugo rapidamente, coloco novamente a calcinha e o sutiã e volto pra sala, onde o vestido me aguarda bem quietinho. Depois de pronta novamente percebo que o cheiro do perfume parece estar agora pior do que antes, meio estranho, como se tivesse sido lavado. Corro pro banheiro e coloco só um pouco nos pulsos, o suficiente pro corpo inteiro.
Resolvo não calçar o sapato. Assim é mais fácil ficar em pé. Mas se o Márcio chega e me pega descalça vai passar uma hora falando que nunca o espero pronta. Resolvo, então, deixar o par bem perto de onde estou pra que nenhuma briga aconteça.
Olho pro relógio e dois minutos já passaram da hora marcada. Se fosse eu, escutaria um monte de bobagens. Mas pra que ficar comparando. É o nosso aniversário de casamento. Depois de 12 anos já não vale mais a pena ficar brigando por qualquer coisa.
Sento para esperá-lo e penso em telefonar, mas controlo a minha vontade, mesmo com o telefone olhando pra mim daquele jeito. De repente seria bom beber uma taça de vinho, já que ele não chega. Mas o meu hálito não ficaria muito agradável depois de um vinho.
Sem ter o que fazer e pra não enlouquecer enquanto o espero, pego meus sapatos e vou para o quarto de tv. Odeio esse sofá, parece que ele vai engolir a gente. Sento e ligo a televisão. Está passando o jornal, mas eu não sei porque prestar atenção em tanta desgraça. Fico ali olhando e pensando nas muitas coisas que eu tenho que fazer com as crianças no dia seguinte. Será que elas estão bem?
Pego o telefone e ligo pra casa da minha mãe. Ela atende como se tivesse acabado de correr uma maratona. “Tudo bem por aí, mãe?”, “ele tem que colocar o aparelho”, “amanhã eu te conto tudo”, “beijos e boa noite”.
Desligo o telefone e penso novamente em ligar pro Márcio. Mas não, não vale a pena. Olho pro relógio e, apesar de parecer uma eternidade, parece que o tempo não andou. Fiz tudo isso em dois minutos? Será possível?
Ele sempre faz isso comigo, eu me arrumo toda e nada dele aparecer. Deve ter encontrado algum amigo e resolveu esticar pra algum boteco do caminho. Provavelmente nem se deu conta de que hoje é o nosso aniversário de casamento. Já não quero mais fazer nada com ele.
Faço questão agora de deixar que o sofá me amarrote toda, já não estou mais sentada, deitei pra ver se pego no sono.
O trinco da porta faz um barulho. É ele. Idiota! Está cinco minutos atrasado. Vou fingir que estou dormindo e assim ele vai ver o quanto eu estou magoada com a sua falta de atenção.
Há exatos 12 anos eu agüento esse tipo de descaso, mas agora não vai mais ser assim. Esse foi o nosso último aniversário. Amanhã eu vou pra casa da minha mãe.
Os passos se aproximam da sala de tv. Tento controlar a respiração pra não demonstrar a minha revolta. Não quero falar com ele, não quero olhar para a cara dele. Enquanto sinto tanto ódio, ele passa a mão levemente em meu braço e sussurra em meu ouvido: “amorzinho?”.
Amorzinho?! Se fosse assim chegaria na hora, né?
Ele repete e eu abro os olhos fingindo que estava no melhor dos sonhos. Não falo nada. Na minha frente está o homem por quem eu me apaixonei e com quem eu resolvi que passaria o resto da minha vida toda. Em suas mãos um buquê de tulipas vermelhas, as minhas favoritas.
“Perdi a hora porque não achava a cor que você gostava, parecia que só tinham tulipas laranjas e amarelas nessa cidade. Ainda bem que encontrei essas. Era pra ser uma dúzia, mas lá só tinha essas oito.”
Tudo Errado
Balela! O sexo rareou e eles começaram a descobrir suas reais personalidades. Ela era implicante, ele, além de muito chato, não tinha conteúdo. Foram levando uma vida assim, mais pela vergonha do fracasso do que pela vontade de estar juntos.
Como já não conversavam, os programas favoritos eram restaurantes e cinema. Locais onde não se fala muito. Gordos, muito gordos mesmo, conheciam todos os restaurantes legais da cidade e os seus pratos mais interessantes. Já não comiam civilizadamente, a velocidade das garfadas fazia com que as palavras quase não existissem e, para eles, assim era perfeito.
O filme da vez era Melinda e Melinda, de Woody Allen. A esposa já assistira todos os filmes dele. O marido achava-o intelectual demais. Estavam sentados, numa sala lotada e em silêncio absoluto, quando apareceu na tela Daniel Sunjata, um dos namoradinhos da protagonista.
O marido, sem nenhum aviso, falou em alto em bom som:
- Puta que pariu! Isso não é um ator, é um modelo! E modelo de cueca!
A esposa, com a boca aberta, olhava para ele sem saber o que falar. Ele virou para frente e não falou mais com ela. O silêncio entre eles durou mais de uma semana. Ninguém queria falar sobre o assunto.
Durante muitos dias, a esposa só conseguia pensar em como alguém, ao ver um ator totalmente vestido (sim, ele estava de calça, camisa e pulôver) conseguiu imaginar um modelo de cueca? Aliás, quem sabe o que é um modelo de cueca?
Pouco tempo depois se separaram e, para alegria geral dos amigos da esposa, eles nunca mais se encontraram. E para decepção dos amigos do marido, hoje ele faz shows travestido na boite gay mais famosa da cidade.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Movimento
sábado, 5 de janeiro de 2008
Ai que calor!
Sem pensar no quanto seria ruim andar embaixo daquele sol e totalmente dedicada à pesquisa, lá foi a pequena com um caderninho e uma caneta na mão. Primeiro tentou ficar parada no banco da rua, mas estava quente demais e a impressão que ela tinha era a de que estava sentada na chapa de panqueca. Foi para uma árvore próxima a banca, mas uma outra pessoa já estava ali usufruindo da sombra. Como sua mãe não gostava que ficasse perto de gente desconhecida, acabou voltando para casa e sentando na porta mesmo.
Apesar do pouco tempo que passara ali, Marília achava que já tinha perdido tempo demais de sua vida esperando alguém passar na rua. Estava quase se levantando quando viu o carteiro se aproximando. Ela procurou uma folha em branco e destampou a caneta.
"Carteiro"
O pobre suava mais do que garrafa gelada em cima da mesa. As pernas quase não levantavam do chão e a camisa estava completamente molhada. O rosto dele estava vermelho e a mão estava colocada em cima da barriga, daquele jeito que fazemos quando sentimos "dor de veado".
A menina olhava curiosa. Não pensou duas vezes e começou a escrever:
"O carteiro já deve estar acostumado com o calor. Ainda não tirou a camisa e ainda passou por aqui sorrindo pra mim e passou devagar, para que eu visse bem o sorriso. Será que homens sentem menos calor do que as mulheres?"
Pouco tempo depois passa uma babá empurrando um carrinho com um bebê dentro. Ela está com o cabelo preso e está com pressa. O bebê não pára de pronunciar sílabas soltas e balança as pernas e os braços como se essa fosse a coisa mais gostosa do mundo. Antes de passar pela frente da menina, a babá pára e oferece uma pequena mamadeira de água ao neném. Ele pega a mamadeira, bebe um golinho e começa a sacudí-la loucamente. Cada gotinha de água que cai em seu rosto o faz sentir a maior alegria do mundo.
A menina não pensa duas vezes:
"Babá e bebê"
"Mais uma descoberta: bebês não sentem calor! Deve ser porque dentro da barriga das nossas mães é quente pra burro! Babás devem sentir calor, mas deve ser pouco. Ela deu uma mamadeira de água para ele (ele nem quis!), se fosse eu teria tomado um gole antes. Ou seja, sou calorenta demais para ser babá."
Mesmo depois que a babá some de seu campo de visão, Marília só consegue pensar em como seria bom uma água bem gelada. Ela resolve entrar em casa e, na cozinha, dá de cara com sua mãe.
- Onde você tava, filha?
- Tô fazendo uma pesquisa, mãe.
- É mesmo? Onde?
- Aqui na rua mesmo...
- Nossa, filha! Mas nesse calor?
Os olhos da menina brilharam e ela correu para escrever em seu caderninho.
"Mãe"
"Não posso ser carteiro, babá e nem bebê, mas acabei de descobrir que eu posso ser uma mãe tão legal quanto a minha!"
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