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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Seres invisíveis

Estou aqui ajoelhada no chão limpando uma privada que eu não tenho permissão de usar. Trabalho há mais de dez anos em uma universidade federal e, durante todo esse tempo, nunca me senti melhor do que qualquer sujeira que eu limpo diariamente.

Em um lugar público, onde teoricamente estariam ricos e pobres, mas só aqueles que têm dinheiro conseguem freqüentar, conheço o rosto de várias pessoas. Alguns estudam aqui, outros estudaram e hoje são professores, mas todos eles passam por mim como se eu fosse parte da mobília, uma coisa inanimada que sempre esteve ali, mas não é importante.

Aliás, a minha existência só é notada em casos extremos. Ontem não vim trabalhar, estava no enterro de minha mãe. Só percebi que sentiram a minha falta quando, no corredor, uma aluna falou que o banheiro estava um nojo, mas nem isto foi falado para mim, foi para outra pessoa, como se eu não pudesse escutar.

Conto cada minuto que estou aqui dentro como um exercício de sobrevivência. Espero as horas de pausa para estar com outros que sentem a mesma coisa que eu, mas também não podem fazer nada para mudar a sua invisibilidade.

Antes, pensava que se fosse um cachorro vagando pelo campus, receberia mais afeto do que recebo hoje, mas agora tenho, lá no fundo do meu peito, uma esperança: minha filha está estudando muito e sonha em entrar para esta universidade. Tenho certeza que, a partir deste dia, pelo menos uma pessoa vai me olhar nos olhos, saber o meu nome e me cumprimentar.

5 comentários:

Francine Esqueda disse...

Adorei o texto! Me sinto sempre bem vinda! Eu adoro ler suas mensagens e pode ter certeza que voltarei muitas vezes!
Beijinhos

Aline disse...

Oie Cecilia,
Eu tb tenho Transtorno de Déficit de Atenção e nunca pensei em me tratar, e isso me atrapalha muito, vc deve fazer idéia.

beijo,

Arthur Silva disse...

Nossa!!! Este texto está ótimo, gostei muito...
E ainda se diz quase escritora!

Bruna Bites disse...

Nossa! Tá ficando boa, hein? Cadê as editoras desse país?
Como eu sempre disse, você escreve maravilhosamente. Tem um talento nato para escolher as palavras e colocá-las lado-a-lado dando um significado muito maior a tudo. Prometa que nunca vai abandonar isso, nem mesmo por falta de Ritalina...
Tô com saudade :)
Beijos.

Dourado disse...

Vc assistiu o Globo Repórter?

É q lendo me lembrei da matéria com um psicólogo...

inté

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